CUIDADO COM OS PÉS PODE GARANTIR QUALIDADE DE VIDA A DIABÉTICOS
Ao pensar em diabetes e seus possíveis efeitos na saúde, normalmente a primeira preocupação está voltada ao coração. A relação faz sentido pelo comprometimento arterial que pode resultar do desenvolvimento da doença. No entanto, há outro efeito que pode passar despercebido: as lesões nos pés, que começam com pequenas feridas e cuja evolução pode desencadear um complexo transtorno para saúde: infecções perigosas, com lento processo de cicatrização — o chamado pé diabético.
O diabetes está relacionado a alterações na taxa de gordura no sangue, que podem levar à arteriosclerose (deposição de gordura nas paredes das artérias) e à amputação de membros. “Os diabéticos são afetados, ainda, por problemas no sistema nervoso que podem conduzir à perda da sensibilidade. Eles não sentem dor, que é um dos principais mecanismos de defesa do organismo. A falta deste sistema de alarme facilita o surgimento de feridas nos pés” – afirma o Dr. Roberto Alves, cirurgião vascular do Hospital Santa Lúcia.
Um a cada dois pacientes com diabetes desenvolve problemas circulatórios. Sem o desconforto das dores e sem o exame clínico dos pés, as lesões tornam-se uma ameaça. O Dr. Roberto Alves explica por que o diabético tem maior dificuldade na cicatrização destas lesões: “A hiperglicemia — alto teor de açúcar na corrente sanguínea — reduz a imunidade, fazendo com que aumente a chance de infecções no local”.
O tratamento adequado das lesões que acometem os pés do paciente diabético requer grandes desafios assistenciais: uma equipe multidisciplinar e integrada, procedimentos de alta complexidade, além da cooperação do paciente e seus familiares durante o processo. Por estes motivos, a prevenção — uso de calçados adequados, cuidados constantes, exame periódico dos pés, controle metabólico — ainda é o ideal. Sabe-se que 85% das amputações foram precedidas por ulcerações, ou seja, feridas que não foram tratadas. Por isso, é fundamental que se mantenha a regularidade do exame dos pés, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Diabetes. Mesmo para os casos em que não apareceram lesões, é indispensável o exame anual, que pode ser mais frequente de acordo com a gravidade e recorrência das úlceras.
O diabetes contribui decisivamente para alterações orgânicas, estruturais e funcionais dos pés, na pele, nos ossos, nas articulações e nos tendões. “Com o tempo, tais mudanças influem nos pontos de apoio e sustentação dos pés durante a caminhada, gerando áreas anormais de pressão que evoluem para formação de calos. Se não tratados adequadamente, eles podem formar úlceras e dificultar o tratamento”, esclarece o Dr. Roberto.
O Hospital Santa Lúcia já tem índice de amputações abaixo de 5%: a cada 100 pacientes com ulcerações nos pés, 95 não precisam de amputação. O índice é comparável aos melhores serviços do mundo. O Dr. Roberto Alves, um dos responsáveis pela terapêutica, explica o motivo do sucesso: “A rapidez no diagnóstico e início do tratamento, bem como o conhecimento e o correto emprego dos métodos terapêuticos, têm nos permitido resultados extremamente satisfatórios no controle desta patologia”.