Como a solidão pode impactar a sua saúde e bem-estar?
A saúde, segundo o conceito da Organização Mundial de Saúde, é composta por um tripé que contempla o estado completo de bem-estar físico, mental e social. Um dos fatores de grande importância para isso é a socialização. Estar só ou sentir-se só impacta negativamente o funcionamento do organismo. Da mesma forma, quando o indivíduo se sente inserido socialmente, o corpo tende a responder de forma positiva.
“Para ter saúde, tanto física quanto mental, é preciso sentir-se incluído em sua cultura, no seu grupo de amigos e familiares. A saúde não é apenas a ausência de doença, e a inserção social do indivíduo tem papel fundamental nisso”, explica a geriatra do Hospital Santa Lúcia, Priscilla Mussi.
De acordo com ela, a solidão está associada à possibilidade de alterações na pressão arterial e glicemia, além de estar diretamente associada à depressão, distúrbios do sono e piora cognitiva. “Ela eleva a taxa de cortisol no organismo, diminuindo a imunidade e aumentando a suscetibilidade a infecções”, descreve a médica. “As piores consequências podem ser o desenvolvimento de Alzheimer, a ocorrência de infarto, a tendência ao suicídio e a morte”, acrescenta.
Para ela, a reversão de quadros desse tipo está ligada à otimização das relações interpessoais. “É preciso conversar, trocar experiências, socializar da forma que mais gostar: fazer aulas, ir a celebrações religiosas, participar de grupos de estudo, cuidar de animais de estimação. Essas estratégias exigem socialização e podem ser muito úteis”, afirma, sem descartar os casos em que o atendimento clínico psicológico ou psiquiátrico possa ser necessário.
IDOSOS – Em geral, as pessoas idosas sentem mais dificuldade em fazer amigos, especialmente se os antigos já tiverem falecido, se a convivência com filhos for menor e se apresentarem dificuldades locomotoras.
“Os idosos, quando não podem mais fazer suas atividades sem o auxílio de terceiros, costumam sentir medo do que as pessoas vão pensar caso saiam sozinhos ou se engajem em sites de amizade ou relacionamento, por exemplo. Isso acaba por isolá-los cada vez mais”, pondera Priscilla Mussi. “Por isso a presença da família, com telefonemas e visitas frequentes, e o incentivo a práticas saudáveis, como fazer atividade física e ter grupos de amizade, são essenciais”.
E como o próprio indivíduo pode encarar o envelhecimento de forma mais saudável e agir para afastar a solidão? Para Mussi, é importante perceber o envelhecimento como uma fase que, apesar de trazer algumas limitações, não deve impedir a socialização, a formatação de planos para o futuro nem o estabelecimento de propósitos de vida.
Já do ponto de vista médico, a atenção às queixas do paciente é fundamental para definir as melhores estratégias. “Ouvir e acolher são atitudes essenciais para ajudar o paciente a viver bem. Além disso, pesquisar o risco de suicídio é extremamente importante, especialmente em idosos”, revela a geriatra.
No Santa Lúcia, a equipe de Enfermagem está preparada para fazer a triagem de risco de suicídio e todos esses pacientes são avaliados pela equipe de psicologia. Além disso, aqueles que apresentam demanda e desejo podem eles mesmos solicitar acompanhamento psicológico.