Avaliação de fluxo sanguíneo identifica necessidade de revascularização do miocárdio
As artérias coronárias são os vasos que irrigam o miocárdio, tecido do coração. Sua obstrução limita o fluxo de sangue para o órgão, provocando problemas graves como o infarto e insuficiência cardíaca, doenças que, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), causam cerca de 150 mil mortes por ano no Brasil.
Por isso, quando há suspeita de obstrução das coronárias, o médico pode indicar a realização da avaliação da reserva fracionada de fluxo do miocárdio (FFR — fractional flow reserve). O exame ajuda a determinar se há necessidade de proceder a uma revascularização miocárdica, como a angioplastia coronária com implante de stent ou cirurgia — conhecida como ponte de safena.
Considerada um procedimento invasivo, a avaliação não deve ser utilizada de modo rotineiro. “Temos opções não invasivas para avaliar se determinada obstrução na artéria coronária está causando algum prejuízo na irrigação do miocárdio, como a cintilografia de perfusão miocárdica, a ecocardiografia e a ressonância cardíaca. Entretanto, em algumas situações esses testes são inviáveis ou inconclusivos, tornando o FFR a primeira opção”, explica o cardiologista intervencionista Luciano Moura, que atua no setor de Hemodinâmica do Hospital Maria Auxiliadora, no Gama.
O FFR é indicado para pacientes que realizam cateterismo cardíaco sem prova funcional não invasiva prévia, para aqueles com obstruções intermediárias e sintomas (dor no peito ou falta de ar aos esforços) com prova funcional não invasiva inconclusiva ou negativa e mesmo a assintomáticos, com uma ou mais obstruções nas coronárias e prova funcional não invasiva inconclusiva.
“A principal vantagem do FFR é o aumento da precisão da indicação ou não de um procedimento de revascularização (angioplastia ou cirurgia). A avaliação facilita a tomada de decisão sobre o tipo de tratamento que deve ser empregado. Todavia, como ela nem sempre é inócua e pode trazer algum tipo de dano, o profissional deve ter certeza de que sua indicação é recomendada para cada paciente”, pondera o especialista.
COMO ACONTECE — O FFR é o índice calculado a partir da divisão do fluxo sanguíneo máximo para o miocárdio quando existe uma obstrução pelo fluxo que existiria caso não houvesse qualquer impedimento para a passagem de sangue pelas artérias coronárias.
“Quando este fluxo se encontra reduzido para 80% ou menos em comparação ao fluxo normal, indica-se a desobstrução da coronária. Se ele for maior que 80%, pode-se manter o tratamento apenas com medicamentos, sem necessidade de uma intervenção mais invasiva”, detalha Luciano Moura.
Para realizar a avaliação, é necessário um aparelho portátil onde se verifica o valor da pressão arterial antes e após a obstrução da coronária, uma guia de pressão e um medicamento específico. O procedimento começa com uma angiografia coronária, que pode ser realizada puncionando uma artéria do antebraço ou virilha, sem cortes ou pontos de sutura.
Isto é feito apenas com anestesia local, ficando a sedação leve a critério da equipe médica ou solicitação do paciente. Após a cateterização de uma determinada coronária, avança-se uma guia de pressão de diâmetro muito reduzido (0,014 polegadas) por dentro da coronária, até a parte mais periférica da obstrução que se deseja avaliar.
PREPARAÇÃO – A preparação é semelhante à de um cateterismo cardíaco convencional, como jejum de poucas horas, checagem prévia da função do rim, estado de coagulação sanguínea do paciente e alergias, entre outros cuidados.
“Muitas vezes, é aconselhável que o paciente já esteja fazendo uso de medicamentos necessários para a realização de uma angioplastia com implante de stents. Isso propicia a execução da angioplastia, quando indicada, no próprio ato do cateterismo, evitando um novo procedimento em outro dia. A avaliação pode ser feita no paciente que se encontra internado ou ambulatoriamente e, a depender do resultado e da situação clínica, ele pode ter alta no mesmo dia”.
CONSULTAS REGULARES – Além de evitar o tabagismo, alimentar-se de modo saudável e praticar atividades físicas, todo indivíduo deve realizar check-ups anuais com o cardiologista a partir dos 40 anos. Caso haja fatores de risco para doenças cardiovasculares, como obesidade, diabetes, sedentarismo e outros, as consultas devem começar aos 35 anos.