Automedicação pode causar diversos prejuízos à saúde
Mesmo medicamentos que não exigem receita, se consumidos indiscriminadamente provocam a reações adversas.
É difícil encontrar alguém que nunca entrou numa farmácia com sintomas de resfriado ou com dores no corpo e que não tenha comprado um medicamento sem receita médica. A automedicação é uma prática recorrente entre muitos brasileiros, principalmente entre aqueles que têm acesso mais restrito à consulta com um especialista. Mas o hábito pode ser perigoso. Dados da Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (Abifarma) mostram que a automedicação é responsável por cerca de 20 mil mortes no país todos os anos.
A farmacêutica clínica Lucieda Martins acredita que não há uma forma de eliminar de vez essa prática. Para ela, a solução seria torná-la mais segura e responsável, incentivando sempre a consulta a um médico. “Mesmo os medicamentos que podem ser vendidos sem receita devem ser indicados por um profissional, pois ele possui conhecimento em áreas de sua competência que permitem, além de indicar, desaconselhar e até mesmo informar em caso de automedicação ou apresentação de sintomatologia simples”.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) calcula que 18% das mortes por envenenamento no país podem ser atribuídas à automedicação e 23% dos casos de intoxicação infantil estão ligados à ingestão acidental de remédios armazenados de forma incorreta. Além de poder provocar reações adversas graves, a ingestão indevida de medicamentos é, hoje, a principal causa de intoxicações no país, à frente de produtos de limpeza, agrotóxicos e alimentos estragados. Analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios representam as classes de medicamentos que mais intoxicam.
Riscos
O consumo indiscriminado de antibióticos, por exemplo, representava um perigo muito grande ao usuário, pois ele aumenta de forma considerável o risco de casos de superbactérias — micro-organismos resistentes à maior parte dos tratamentos disponíveis. A RDC 20/2011, publicada pela Anvisa, foi uma forma de frear a compra desses medicamentos, uma vez que se tornou obrigatória a apresentação de receituário próprio para venda.
De acordo com Lucieda Martins, a solução é válida, apesar de ainda haver pouca fiscalização. “Esperamos, também, que passe a ser exigida a presença do farmacêutico dentro das farmácias comunitárias, para tornar a cobrança da receita mais efetiva”.
A descontinuidade do uso ou o consumo em excesso de antibióticos também podem levar a uma infecção recorrente, com agravamento do quadro clínico e restrição das opções de tratamento.
A profissional acompanha o caso de pessoas que apresentam esses tipos de complicações após praticarem automedicação por muito tempo. “Uma paciente com lombalgia, por exemplo, passou a fazer uso abusivo de anti-inflamatórios. Chegou aqui com um quadro de gastrite, com perda significativa de peso (10kg) e infecção renal, resultado dos efeitos colaterais dos medicamentos”, explica. Por não procurar ajuda médica no início e ainda mascarar a patologia com a automedicação, as dores que ela sentia foram identificadas como degeneração discal grave, problema de difícil tratamento.
Interação medicamentosa
Para quem toma medicação de uso contínuo, comprar aquele remedinho na farmácia sem orientação pode ser ainda mais arriscado. “Até chás, fórmulas naturais e fitoterápicos podem causar interação medicamentosa e trazer reações adversas ao paciente. O ginseng, por exemplo, indicado muitas vezes para melhora da performance física, diminuição do estresse e do cansaço não deve ser tomado por hipertensos, pois altera ainda mais a pressão arterial”, esclarece.
Evite intoxicações
A maior parte dos casos de intoxicação por medicamento ocorre pelo uso acidental, sendo mais frequente entre as crianças. Por isso, os pais ou responsáveis devem ter muito cuidado ao armazená-los.
Esse tipo de produto deve ser guardado em local seguro, de preferência trancado com chave. Também não os deixe soltos em gavetas, dentro de vasos, potes, objetos de decoração ou de qualquer outra forma que permita o acesso de animais domésticos, crianças ou idosos.
Caso tenha algum problema com o uso de medicamento, o consumidor pode entrar em contato com o Disque Intoxicação da Anvisa, pelo telefone 0800 722 6001. Por meio desse canal é possível buscar ajuda médica o mais rápido possível. Para isso, é importante levar o medicamento tomado e a sua bula, se possível.