Aumento de peso eleva a pressão arterial e pode provocar muitas doenças
O sobrepeso e a obesidade são conhecidos fatores de risco para a elevação da pressão arterial. Segundo um estudo publicado pela instituição norte-americana National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK), a prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) cresce de acordo com o aumento do Índice de Massa Corpórea (IMC), cálculo utilizado para aferir se o peso de um indivíduo está dentro de limites saudáveis.
De acordo com o estudo, a prevalência de hipertensão em pessoas adultas com peso considerado normal (IMC entre 18,5 e 24,9) chega a 17,5%. Já entre os indivíduos com sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9), o percentual de hipertensos sobe para 23,9% e, entre obesos (IMC de 30 de 34,9%), chega a 35,3%.
“A obesidade provoca inflamações silenciosas e crônicas e ocasiona alterações em genes do sistema renina-angiotensina-aldosterona (envolvido no controle do volume de líquidos extracelulares e da pressão arterial). Isso provoca a redução do diâmetro dos vasos sanguíneos (vasoconstrição), o que aumenta a resistência vascular periférica e eleva a pressão arterial de forma crônica”, explica o cardiologista do Hospital Santa Lúcia, Lázaro Miranda.
No Brasil, dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgados no último dia 12 de maio, indicam que 24,8% da população brasileira adulta tem pressão alta. Neste cenário, as mulheres respondem por 26,8% dos casos e os homens por 22,5% dos registros.
A elevação da pressão arterial compromete principalmente o coração, cérebro, rins e grandes vasos arteriais, causando doenças graves, como o infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, derrames cerebrais, insuficiência renal e aneurisma de aorta.
Em média, a pressão ideal para minimizar o risco de problemas cardiovasculares, considerando adultos até os 60 anos, situa-se abaixo de 120/80, popularmente traduzido como 12 por 8. Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão e a Sociedade Brasileira de Cardiologia, para a maioria das pessoas hipertensas, a pressão arterial deve estar abaixo de 14 por 9, exceto os diabéticos — que devem mantê-la em valores inferiores a 13 por 8,5 — e doentes renais crônicos, cuja pressão deve ficar abaixo de 12 por 7,5. Mais recentemente, diretrizes europeias e americanas recomendam mais tolerância com o indivíduo idoso hipertenso, estabelecendo como meta a ser alcançada 15 por 9.
FATORES DE RISCO – “A ingestão elevada de sal de cozinha, que devemos reduzir pelo menos a uma colher de chá rasa ao dia, o excesso de açúcar, doces e gorduras saturadas são fatores de risco para a elevação da pressão arterial, assim como o consumo de álcool e o tabagismo”, enfatiza o médico Lázaro Miranda.
“Já uma dieta rica em vegetais e frutas com alto teor de potássio, cálcio e magnésio — por exemplo, alface, repolho, chuchu, tomate, berinjela, pimentão, banana, laranja, uva, abacaxi, pêssego, damasco, castanhas e nozes — auxilia o organismo a manter a pressão arterial em níveis saudáveis”, acrescenta o especialista.
O tratamento da hipertensão inclui uma série de mudanças comportamentais: reeducação alimentar, prática regular de atividades físicas, perda do excesso de peso, cessação do tabagismo e redução da ingestão de bebidas alcoólicas, entre outras. Além disso, é possível introduzir medicamentos anti-hipertensivos, sempre com recomendação médica.
CONTROLE PRECOCE – O controle da pressão arterial deve começar cedo. Segundo Lázaro Miranda, até 5% das crianças em idade escolar com sobrepeso e obesidade apresentam quadro de hipertensão arterial. “Considerando que as lesões de órgãos são proporcionais ao tempo de vida com hipertensão, as crianças, adolescentes e os jovens hipertensos serão muito prejudicados ao longo dos anos e poderão ter a vida drasticamente encurtada pela doença”, alerta.
Já ao nascer, o bebê deve ser submetido à verificação da pressão arterial. A partir daí, o acompanhamento deve ser feito anualmente ou sempre que houver suspeita clínica de alteração. Na mulher adulta, o acompanhamento da pressão arterial deve acontecer com maior frequência se estiver grávida, fizer terapia de reposição hormonal (TRH) ou usar anticoncepcionais orais.
A recomendação médica é que indivíduos adultos a partir dos 35 anos de idade e sem fatores de risco genéticos (familiares) ou modificáveis (obesidade e tabagismo, por exemplo) façam um check-up com o cardiologista anualmente. A avaliação deve incluir um exame clínico detalhado, eletrocardiograma e análises laboratoriais básicas, tais como hemograma, sumário de urina, exame parasitológico de fezes, creatinina, glicemia de jejum e lipidograma. Já aqueles que apresentam fatores de risco devem procurar um especialista pelo menos a cada seis meses.
Confira as principais dicas para evitar a hipertensão arterial sistêmica:
— Dieta com pouco sal, pouco açúcar e doces e eliminando as gorduras saturadas;
— Adotar dieta rica em vegetais e frutas, rica em potássio, cálcio e magnésio;
— Realizar atividade física regularmente e por toda a vida;
— Controlar o stress, desenvolvendo técnicas de relaxamento e reestruturação cognitiva;
— Evitar o álcool e deixar de fumar imediatamente;
— Tratar a obesidade, se presente, de forma determinada;
— Tratar a síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS), se portador;
— Nunca fazer uso de drogas ilícitas, esteroides anabolizantes (vulgarmente “bombas”), energéticos e termogênicos, entre outros;
— Evitar a automedicação. Vários grupos de medicamentos podem elevar a pressão arterial, tais como anticoncepcionais orais, anti-inflamatórios, corticoides, anfetaminas, vasoconstrictores (presentes em alguns antigripais e analgésicos) etc.