A vitamina D na saúde e o impacto do isolamento social na sua produção
A vitamina D tem função essencial no equilíbrio de diferentes órgãos e funções do organismo, em especial do metabolismo do cálcio. Ela está envolvida, por exemplo, na modulação da autoimunidade, no controle de inflamações e da pressão arterial e pode ajudar a evitar doenças crônicas como diabetes, esclerose múltipla, câncer, depressão e doenças autoimunes.
Apesar de estar presente em diversos alimentos, como óleo de fígado de bacalhau, bife de fígado, gema de ovo, peixes (atum, sardinha, salmão), queijos do tipo cheddar, suíço ou ricota, cogumelos, ostras e leite, as fontes alimentares respondem por apenas 10 a 20% da vitamina D necessária para os seres humanos. O restante é sintetizado pela pele quando exposta ao sol.
Estudos científicos mostram que as taxas de vitamina D no organismo dos brasileiros estão comumente abaixo do desejado mesmo quando não há necessidade de isolamento social, como o que está em curso neste momento por causa da pandemia de coronavírus. Isso ocorre em cerca de 60% dos adolescentes; 40% a 58% dos adultos jovens; e 42% a 83% dos idosos, com taxas mais altas entre indivíduos com idades mais avançadas.
O que fazer, então, para evitar que a deficiência de vitamina D no organismo se agrave neste período em que todos estão mais tempo em casa e, consequentemente, menos expostos ao sol? O risco de queda na imunidade é maior? Há outros possíveis problemas à saúde envolvidos?
Segundo o coordenador de Clínica Médica dos hospitais Santa Lúcia Norte e Maria Auxiliadora (Gama), Lucas Albanaz Vargas, é necessário termos muita cautela ao abordar o tema. “Embora envolvida em diversos processos do nosso organismo, não existe comprovação científica que valores mais elevados da vitamina sejam necessários para a manutenção desses processos ou mesmo que confiram benefício superior. Da mesma forma, valores muito elevados podem provocar efeitos negativos. É importante, sim, nos atentarmos para a manutenção de bons níveis de vitamina D, melhorando nossa exposição ao sol e nossa alimentação. Mas a necessidade de suplementação deve ser orientada por um médico”, reforça.
A médica dermatologista do Hospital Santa Lúcia, Raffaela Drumond, também recomenda que qualquer suplementação oral de vitamina D seja feita com orientação profissional e sugere que, aliada a uma dieta enriquecida com alimentos como atum, sardinha, ovos e cogumelos, a exposição ao sol seja controlada e feita de forma adequada.
“A Sociedade Brasileira de Dermatologia orienta que, 3 vezes por semana, durante 10 a 15 minutos, haja exposição ao sol de regiões como pernas e abdome. Nesses momentos, é importante evitar a exposição de áreas já cronicamente expostas, como face, pescoço, braços e colo, tendo em vista o risco de câncer de pele. O melhor é fazer isso entre as 10 e as 15 horas, devido ao pico da radiação UVB, que é a principal estimulante da produção da vitamina D”, destaca.
Mas ela também faz um alerta: é preciso evitar o sol mais forte do meio dia, não extrapolar o período de exposição de 15 minutos e aplicar protetor solar nas áreas expostas. “Um estudo recente evidenciou que o uso do protetor solar não prejudica a produção de vitamina D. Com esses cuidados e o uso de chapéu, óculos e roupas sobre áreas já naturalmente expostas, podemos tomar sol de forma mais segura e minimizar o risco de câncer”, enfatiza.
A FALTA DE VITAMINA D – A deficiência de vitamina D pode causar dores musculares, fraqueza e dor óssea em pessoas de todas as idades. Os sintomas podem ser percebidos em indivíduos nas mais variadas faixas etárias. Em bebês, sua ausência pode provocar espasmos musculares e atrasar seu desenvolvimento para ações como sentar ou engatinhar.
Já em crianças entre 1 e 4 anos de idade, o crescimento ósseo tende a sofrer anomalias, com desvios na curvatura da coluna vertebral (escoliose) e pernas arqueadas (joelho varo) ou joelhos juntos (joelho valgo). “Essas crianças podem demorar a aprender a andar e é provável que crianças mais velhas e adolescentes sintam dor ao caminhar. Em meninas adolescentes, pode provocar achatamento dos ossos pélvicos, causando um estreitamento da vagina”, revela o médico Lucas Albanaz Vargas.
Já nos adultos, a falta de vitamina D pode provocar fragilidade óssea, particularmente na coluna vertebral, na pelve e nas pernas. As zonas afetadas são dolorosas ao tato e podem ocorrer fraturas. Em pessoas idosas, fraturas ósseas, especialmente do quadril, podem acontecer apenas a partir de um leve choque ou de uma pequena queda.
VITAMINA D E COVID-19 – A deficiência de vitamina D pode interferir no curso da Covid-19? Segundo Vargas, não causa surpresa o achado de baixas taxas da substância em pacientes com formas moderadas a graves da Covid-19, já que as comorbidades apresentadas comumente por esses indivíduos (por exemplo, doenças crônicas ou inflamatórias, obesidade e diabetes) são primariamente associadas à deficiência de vitamina D.
“Nenhum estudo demonstrou qualquer benefício do uso de vitamina D para prevenir ou tratar a Covid-19, como ressaltado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Todavia, neste período em que enfrentamos a pandemia e estamos muito preocupados com nossa saúde, devemos, sim, melhorar a alimentação e praticar exercícios físicos mesmo em casa, porque tudo isso irá se refletir no nosso sistema imunológico”, pondera.