Técnicas para realização de cirurgia segura reduzem riscos aos pacientes e evitam complicações
Minimizar riscos à saúde do paciente e evitar complicações, antes durante e após a realização de uma cirurgia, são os principais objetivos da assistência cirúrgica segura. O conceito, comumente chamado de “cirurgia segura”, engloba diversos procedimentos para garantir que nenhum evento adverso agrave a saúde do indivíduo, cause problemas adicionais ou prejudique sua recuperação.
“Há diversas metas a serem buscadas visando a segurança dos pacientes cirúrgicos. Elas vão da identificação correta do paciente e do local a ser operado, passam pelo reconhecimento de complicadores da função respiratória, diagnóstico prévio de possível perda volumosa de sangue e verificação da existência de alergias a medicações comumente usadas, até métodos para prevenir infecções no local da operação”, explica o anestesista do Hospital Santa Lúcia, Gustavo Amaral.
De acordo com ele, a preparação e execução seguras de uma cirurgia envolve uma equipe multiprofissional, com auxiliares de enfermagem, enfermeiros, anestesistas e cirurgiões treinados para oferecer o melhor no ambiente cirúrgico. O processo é feito a partir de um check-list recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), reconhecidamente útil em reduzir complicações evitáveis.
“A checagem é feita em três etapas; duas são feitas antes da cirurgia se iniciar e outra ao término do procedimento. O objetivo é ter um guia para colocar em prática todos os preceitos de ‘cirurgia segura’ e evitar situações adversas em qualquer momento do período perioperatório, favorecendo a recuperação sem imprevistos e a alta hospitalar precoce”, explica Gustavo Amaral.
Além das metas a serem buscadas, já citadas pelo médico, há também outras importantes. A cirurgia segura demanda o uso racional de medicamentos a fim de evitar reações indesejadas; visa ao cuidado para que nenhum material cirúrgico, gazes ou compressas sejam deixados no corpo do paciente; a correta identificação e dispensa ao laboratório de qualquer material cirúrgico removido; e a vigilância de rotina dos resultados cirúrgicos para obtenção de dados que ajudem a aperfeiçoar o processo.
CIRURGIA SEGURA NA PRÁTICA – O especialista cita alguns exemplos da importância de adotar tais medidas. “Há diversos relatos na literatura sobre operações realizadas no membro errado ou em pacientes trocados. Pode haver semelhança em nomes de dois pacientes a serem operados no mesmo dia ou mesmo distração por parte de alguma equipe com várias cirurgias no mesmo período. Apesar de serem eventos raros, são catastróficos quando ocorrem. Por isso, conferimos a identificação de cada um e exigimos a marcação pertinente no local a ser operado antes da entrada no centro cirúrgico” detalha o médico.
Segundo Gustavo Amaral, há registros de uso de medicações trocadas em pacientes cirúrgicos em ambientes hospitalares mesmo nos melhores centros de saúde. Devido a isso, a seringa a ser aplicada é rotulada com o nome e diluição da medicação para checagem prévia à sua administração.
“Quando o assunto é prevenir infecções, lançamos mão da raspagem dos pelos e o preparo da pele do local a ser operado com substâncias antissépticas no dia da cirurgia. Ainda ajudam o uso de películas antissépticas, paramentação correta por parte da equipe envolvida e uso de campos cirúrgicos estéreis e descartáveis no paciente”, detalha.
A checagem prévia do aparelho de anestesia, do fornecimento de oxigênio na sala cirúrgica e do monitor multiparamétrico que sinaliza os sinais vitais, além da presença de anestesiologista capacitado e vigilante durante o ato anestésico-cirúrgico, aumentam a segurança do paciente.
Além disso, o reconhecimento prévio de cirurgias que levam a grandes perdas de sangue também é de extrema importância, porque permite à equipe preparar melhor o paciente, fazer reserva de sangue prévia, buscar vias de acesso para infusão de drogas vasoativas e monitorização invasiva da pressão arterial. Com esse enfoque mais dinâmico, o paciente se livra de problemas como choque hemodinâmico e disfunção orgânica, mesmo que tenha um sangramento importante durante a cirurgia.
TRANSPARÊNCIA – Todos os pacientes têm o direito de conhecer os riscos a que serão submetidos durante uma cirurgia, assim como as condutas que serão adotadas pela equipe caso alguma eventualidade aconteça. “Após consulta com o cirurgião, o paciente é também orientado pelo anestesista, em consulta pré-anestésica, para que tenha as dúvidas referentes ao procedimento anestésico-cirúrgico esclarecidas”, finaliza Gustavo Amaral.