Risco de doenças cardiovasculares é duas vezes maior em obesos abdominais
A obesidade é prejudicial à saúde e aumenta o risco para o desenvolvimento de diversas doenças, como infarto e câncer, por exemplo. Contudo, o acúmulo excessivo de gordura na região do abdome é ainda mais perigoso e, quando comparado à obesidade comum (aquela distribuída por todo o corpo), pode duplicar o risco de doenças cardiovasculares.
É o que afirma uma pesquisa recentemente publicada pela Mayo Clinic, nos Estados Unidos. O estudo envolveu 15.184 americanos com peso considerado normal, mas com acúmulo excessivo de gordura no abdome, e concluiu que a presença de gordura abdominal prejudica mais a saúde, alterando as taxas de colesterol e favorecendo o desenvolvimento da hipertensão, cirrose hepática, intolerância à glicose e diabetes, entre outras doenças.
“A gordura abdominal inicia e fomenta reações inflamatórias, imunológicas e endócrinas e também da coagulabilidade sanguínea, de modo a causar ou acelerar processos de aterosclerose que resultarão em infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência renal e cardíaca”, afirma o cardiologista do Hospital Santa Lúcia, Lázaro Miranda.
PESO TOTAL OU RELAÇÃO CINTURA-QUADRIL? Mais conhecido pela população em geral, o Índice de Massa Corpórea (IMC) avalia se o peso do indivíduo está dentro da normalidade. O cálculo considera a relação entre o peso corporal total do indivíduo e a sua altura para classificar os graus de sobrepeso e obesidade (I, II, III e mórbida). O IMC mede a predominância da denominada “gordura marrom”, subcutânea (gordura boa), sobre a “gordura branca” (ruim), mas não leva em conta a distribuição da gordura pelo corpo.
Já o Índice Cintura Quadril (ICQ) — divisão da medida em centímetros da circunferência da cintura pela medida da circunferência do quadril — permite avaliar com mais precisão o acúmulo de gordura branca (visceral) na região toracoabdominal (tórax e abdome). Quando o resultado desta conta é maior que 0,9 para homens e que 0,8 para as mulheres, a possibilidade de desenvolver doenças cardiovasculares aumenta.
“O cálculo do ICQ não dispensa a realização do IMC, nem a classificação clínica pelo especialista. Todas estas medidas se complementam e são fundamentais para avaliar o estado de saúde do indivíduo”, pondera Lázaro Ramos.
ACÚMULO DE GORDURA – A predisposição genética associada à dieta inadequada e ao sedentarismo alteram o metabolismo dos lipídeos a partir da liberação exacerbada de hormônios como cortisol e leptina, que direcionam o acúmulo de gordura para regiões do corpo como as vísceras e o peritônio (membrana que recobre as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos).
O perigo é maior para indivíduos do sexo masculino. “A mulher é favorecida pela atividade estrogênica, cuja ação está relacionada com o controle da ovulação e com o desenvolvimento de características femininas, razão pela qual a obesidade abdominal é predominante entre os homens”, explica Lázaro Miranda.
ALIMENTAÇÃO – Os grandes vilões para o acúmulo de gordura abdominal são os alimentos com alto índice glicêmico, constituídos por carboidratos simples, tais como pães, bolos, massas, doces, refrigerantes e bebidas alcoólicas; aqueles com gordura trans, como bolachas recheadas, sorvetes industrializados e salgadinhos; os que contêm glúten, como cevada, cerveja e chope; além de sal de cozinha.
“Devemos preferir os alimentos que comprovadamente aceleram o metabolismo e aumentam o gasto calórico, bem como aqueles ricos em fibras não absorvíveis, tais como batata-doce, tapioca, inhame, nozes, semente de chia, chá verde, abacate, banana verde, frutas vermelhas, peixes e frutos do mar (ricos em ômega 3), clara de ovo, probióticos (iogurtes desnatados), vinagre de maçã, óleo de cártamo etc.”, recomenda o médico.
PREVENÇÃO – Todo adulto com 35 anos ou mais, mesmo que se sinta normal, deve fazer um check-up anual com um cardiologista. Se houver histórico familiar (pai, mãe ou irmãos) forte para doenças cardiovasculares, essa consulta deverá ser antecipada em 10 anos. Todo obeso global ou visceral deve ser avaliado também pelo cardiologista, incluindo crianças e adolescentes.
“Essa consulta médica avaliará a condição geral de saúde do indivíduo, inclusive com exames laboratoriais e outros, como eletrocardiograma, considerando o risco cardiovascular global. A partir daí, são introduzidas as mudanças necessárias no estilo de vida do paciente, como alimentação saudável, atividade física regular e tratamento de outros eventuais distúrbios já presentes, como hipertensão, colesterol alterado, diabetes etc.”, detalha.
Caso sejam necessários, também podem ser solicitados testes de esforço e ecodopplercardiograma. Exames mais sofisticados — como cintilografia miocárdica, angiotomografia e ressonância cardíaca — somente serão solicitados em situações específicas.