Problemas na tireoide podem intensificar complicações da Covid-19?
Muitos questionamentos sobre os riscos trazidos à saúde pela Covid-19 ainda não foram respondidos pela ciência, mas já se sabe que em pacientes com problemas cardiovasculares, por exemplo, a probabilidade de desenvolver formas mais graves da doença é maior.
Novas descobertas são feitas a cada dia e é muito comum que as pessoas se perguntem que outras condições pré-existentes poderiam ocasionar complicações de maior gravidade num paciente caso ele contraia o coronavírus.
Por isso, convidamos o endocrinologista do Hospital Santa Lúcia, Fernando Martins, para esclarecer a relação entre disfunções da tireoide — glândula responsável pela produção dos hormônios reguladores do organismo T3 (tri-iodotironina) e T4 (tiroxina) — e manifestações mais intensas da Covid-19.
Leia a entrevista e compartilhe conhecimento.
1. Quais os principais problemas relacionados ao funcionamento da tireoide?
Os principais problemas da tireoide estão relacionados a alterações no seu funcionamento: hipotireoidismo (falta do hormônio tireoidiano) ou hipertireoidismo (excesso de hormônio). Nestas situações, a pessoa pode cursar desde arritmias, tremores, insônia, irritabilidade e sudorese a letargia, sonolência e prostração, dependendo do tipo de alteração do seu funcionamento.
2. Quais os fatores de risco para esses problemas e as consequências da falta de controle?
Doenças de tireoide, em geral, têm origem autoimune e podem ser hereditárias, já que quando os pais possuem alguma alteração, aumenta o risco dos filhos terem também. Se essas doenças estiverem descompensadas, pode ocorrer arritmias, perda de peso por perda de músculo, maior risco para lesões musculares, diarreia, insônia e exoftalmia (olho saltado para fora).
3. Como é feito o controle?
O controle é feito ajustando os níveis hormonais. Se o quadro for de hipotireoidismo, faz-se reposição hormonal; se for de hipertireoidismo, é preciso averiguar o porquê de a glândula estar produzindo hormônios em excesso. Possíveis causas podem ser a presença de um nódulo produtor de hormônio tireoidiano, inflamação da glândula ou ainda alterações no seu receptor, o que faz com que ela libere hormônios independentemente da necessidade do organismo.
4. Quem tem problemas na tireoide está mais propenso a desenvolver formas graves da Covid-19? Por quê?
Os pacientes com doenças tireoidianas não fazem parte do grupo de risco para a infecção Covid-19, mesmo se a causa do transtorno for de natureza autoimune, como a tireoidite de Hashimoto e a doença de Graves. Eles devem seguir as mesmas orientações do Ministério da Saúde destinadas à população geral, ressaltando-se a necessidade de manter o bom controle da alteração que tiverem.
5. Como fica o tratamento do hipotireoidismo ou hipertireoidismo caso a pessoa tenha sido diagnosticada com o coronavírus?
O tratamento não deve sofrer nenhuma alteração no caso de contágio pelo coronavírus. Recomenda-se que os pacientes mantenham o uso de seus medicamentos na dose habitual. Nos casos de maior gravidade, em que for necessária a internação hospitalar, é importante que a equipe médica responsável seja informada sobre o tratamento utilizado, com nome e doses dos medicamentos em uso.
6. Há cuidados especiais para pacientes em situações mais graves, como os que têm câncer de tireoide ou que iriam retirar a glândula cirurgicamente?
No caso de pacientes com câncer de tireoide, a maioria — aqueles tratados com cirurgia seguidos ou não de terapia com iodo radioativo e sem doença ativa — não está no grupo de risco para gravidade da infecção por Covid-19 e não necessita de nenhum cuidado adicional referente às medidas de proteção ao contágio da infecção.
Já os pacientes com câncer de tireoide avançado, com metástases para outros órgãos, especialmente pulmões, ou em uso de medicamentos específicos para o câncer (sorafenibe, lenvatinibe, vandetanibe), podem apresentar maior risco para a gravidade da infecção, tanto pela extensão da doença quanto pelos possíveis efeitos adversos dos medicamentos.
Esses pacientes devem tomar mais cuidado, manter o isolamento social e seguir todas as demais medidas já divulgadas pelas autoridades competentes para pessoas de alto risco.
7. Algo que gostaria de acrescentar?
O coronavírus é uma doença viral, e quem estiver com a imunidade comprometida pode ter mais complicações. Então, todas as medições de uso habitual para controle da pressão arterial, diabetes, ansiedade, colesterol e tireoide devem ser mantidas.
Além disso, é bastante importante praticar regularmente alguma atividade física, evitar o consumo de álcool e, em caso de obesidade, fazer o tratamento adequado para perda de peso. Nos cuidando, sairemos mais rápido desta fase.