Novos medicamentos trazem mais qualidade de vida a pacientes com esclerose múltipla
A esclerose múltipla é uma doença autoimune que atinge o cérebro e a medula espinhal. Ela afeta cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo e pode levar à incapacidade, devido a sequelas motoras, sensoriais e cognitivas. Apesar desse prognóstico, novos tratamentos têm ampliado o leque de escolhas e aumentado a qualidade de vida dos pacientes. Nos últimos cinco anos, dois novos medicamentos para esclerose múltipla foram autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): o natalizumabe e o fingolimod. “Eles reduzem a quantidade e a intensidade dos surtos e podem ser opções para pacientes que não respondem bem aos remédios tradicionais”, explica o neurologista Claudio Carneiro, do Hospital Santa Lúcia. O fingolimod tem a vantagem de ser administrado por via oral, enquanto todos os outros medicamentos para esclerose múltipla são injetáveis, e o natalizumabe é comprovadamente eficaz nas formas mais graves da doença.
O fingolimod é um imunossupressor, cuja ação principal consiste em bloquear a capacidade dos linfócitos – células de defesa do organismo – de sair dos linfonodos ou gânglios linfáticos. Assim, ele consegue reduzir a frequência de surtos da doença e retardar a progressão da incapacidade. Sua vantagem é que pode ser administrado diariamente por via oral, enquanto o tratamento tradicional da esclerose múltipla é injetável. Porém, o Fingolimod pode desencadear alterações nos batimentos cardíacos. “Por isso, a primeira dose deve ser tomada em ambiente hospitalar, com monitoração e acompanhamento por cardiologista. Se o paciente apresentar arritmia ou diminuição dos batimentos, ele não poderá continuar o tratamento com essa medicação”, afirma o neurologista.
O Natalizumabe, por sua vez, é um anticorpo monoclonal indicado como medicamento de segunda linha contra a esclerose múltipla, ou seja, de ação mais lenta e de uso prolongado. Seu mecanismo impede a adesão e a entrada de linfócitos no sistema nervoso central, atuando diretamente na barreira entre o sangue e o cérebro. Sua administração é intravenosa, com aplicação de uma dose a cada quatro semanas. A eficácia desse medicamento está comprovada no tratamento das formas graves de esclerose múltipla tipo surto-remissão, que não respondem ao tratamento com interferon ou acetato de glatirâmer, dois medicamentos tradicionais contra a doença. Porém, seu uso ainda é restrito, devido aos efeitos colaterais.
Seja qual for a medicação indicada para cada paciente, o neurologista Claudio Carneiro orienta que o tratamento deve ser iniciado o quanto antes, pois isso é fundamental para retardar o progresso da doença e evitar eventuais sequelas mais graves. A fase inicial da esclerose múltipla é bastante sutil, e muitas vezes os sintomas passam despercebidos pelo paciente. A pessoa pode passar dois ou três anos apresentando pequenos sintomas sensitivos, como turvações temporárias da visão ou discretas alterações no controle da urina, que desaparecem depois de alguns dias. Com a evolução do quadro, aparecem sintomas de maior magnitude, como fraqueza, entorpecimento ou formigamento nas pernas ou de um lado do corpo, visão dupla, perda visual prolongada, desequilíbrio, tremor e descontrole dos esfíncteres.
Em geral, a doença acomete pessoas jovens, entre 20 e 30 anos, e é mais comum nas mulheres e nos indivíduos de pele branca que vivem em zonas temperadas. Na maioria dos casos, quando o diagnóstico da esclerose múltipla é confirmado, já existem sequelas neurológicas. Por isso, além do tratamento medicamentoso, a fisioterapia também é um aliado incondicional do paciente e ajuda a reformular o ato motor, dando ênfase à contração dos músculos ainda preservados. A reabilitação neurológica é igualmente importante, seja na adaptação do paciente às limitações físicas impostas pela doença, na recuperação de lesões, quando possível, ou na prevenção de complicações como as deformidades ósseas, ao longo do tempo.