Neuromodulação substitui terapias convencionais no tratamento de dores crônicas
A neuromodulação é um tipo de terapia que utiliza estímulos elétricos, magnéticos ou medicamentosos em alvos específicos do cérebro e da medula para tratar doenças, podendo utilizar técnicas invasivas ou não. Uma de suas maiores aplicações é no tratamento de dores crônicas neuropáticas, relacionadas a lesões ou disfunções do sistema nervoso. “Essa técnica é uma opção para pacientes com dores resistentes aos tratamentos convencionais. Por exemplo: pessoas com dor na coluna cervical, torácica e lombar que já tenham passado por cirurgia sem conseguir eliminar a dor; pacientes com metástase óssea de câncer; pessoas com dor crônica resultante de derrame, trauma cerebral ou medular e até de traumas ortopédicos comuns são as candidatas mais frequentes ao uso de neuromodulação”, explica o Neurocirurgião Funcional Tiago Freitas, do Hospital Santa Lúcia, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Neuromodulação (SBNM). As vantagens, acrescenta, são a segurança – pois não há risco de lesão ao sistema nervoso do paciente –, a individualização do tratamento e a reversibilidade.
Estima-se que uma em cada três pessoas deverá sofrer de algum tipo de dor crônica ao longo da vida. “Desse total, entre 40% e 50% destes pacientes, que não obtiveram resultados satisfatórios nos tratamentos convencionais, podem se beneficiar da neuromodulação para minimizar ou eliminar a dor”, destaca Tiago Freitas. O Brasil ainda possui poucos especialistas nesse tratamento, que exige formação específica, fundamental para o sucesso do tratamento. Para cada paciente, o especialista indica a técnica de neuromodulação mais adequada, ajusta a frequência de estimulação ou quantidade de medicamento, define o local exato de aplicação para que a terapia gere a resposta necessária, estipula a quantidade de sessões, etc. “É um tratamento totalmente individualizado”, reforça o neurocirurgião.
Segundo ele, há pacientes que, com a ajuda da neuromodulação, conseguem deixar de utilizar medicamentos. Outros conseguem diminuir a intensidade das dores e melhorar a qualidade de vida. “Uma das maiores vantagens dessa terapia é que ela permite testes e ajustes sem nenhum risco de lesão, e também é totalmente reversível, permitindo que o tratamento seja interrompido com a remoção do dispositivo de estimulação”, explica Tiago Freitas. As técnicas de tratamento da dor crônica por neuromodulação podem ser invasivas ou não. As que mais se aplicam ao tratamento da dor crônica são:
Estimulação Magnética Transcraniana Repetiva (EMTr): é uma técnica não invasiva que gera um campo magnético através de uma bobina ligada a um aparelho com corrente rápida repetitiva em alta frequência (10 a 30 Hz) ou corrente lenta em baixa frequência (1 a 5 Hz) que equilibra determinada região do cérebro delimitado pelo médico previamente.
Estimulação cerebral com corrente elétrica: outra técnica não invasiva, que utiliza um aparelho de estimulação movido a bateria ligado a dois eletrodos fixados no couro cabeludo do paciente, criando um circuito elétrico que atravessa o cérebro. A técnica facilita a transmissão dos impulsos nervosos de um neurônio a outro
Terapia por Campo Eletromagnético Pulsado (PMFE): é uma técnica de neuromodulação não invasiva, em que um aparelho é colocado na região do corpo determinada pelo médico. Esse aparelho gera um campo magnético de baixa frequência, que age no metabolismo celular fazendo com que as células trabalhem de maneira mais eficiente.
Cirurgia de implante no córtex motor: é um método de neuromodulação invasivo, cirúrgico, com implantação de eletrodos através no córtex motor. Coloca-se um marcapasso na clavícula, ligado a eletrodos em regiões específicas do cérebro. Os eletrodos emitem uma descarga elétrica que promove analgesia e alivio da dor.
Estimulação medular invasiva: É um tipo de neuromodulação que exige cirurgia para colocação de um implante com eletrodos em uma região específica da medula, gerando uma pulsação de corrente contínua fraca, que promove analgesia.
Bomba de infusão de morfina: consiste em um cateter implantado na região da coluna, que libera quantidades muito pequenas de morfina junto ao líquido que envolve a medula. Esse cateter é conectado a um reservatório implantado na região abdominal, embaixo da pele. Periodicamente, o reservatório é reabastecido através de uma pequena punção do mesmo. O tempo para reabastecimento depende da quantidade de morfina necessária para o paciente, sendo realizado, em média, a cada 2 a 6 meses.
Estimulação Cerebral Profunda: consiste em uma cirurgia com implante de eletrodos em uma região específica do cérebro responsável pelo controle da dor. Os estímulos elétricos nesta região inibem a sensação dolorosa. Os eletrodos são acoplados a um gerador semelhante ao de marcapasso cardíaco, que fica alojado abaixo da clavícula.
Matéria veiculada na revista do Correio Braziliense em 24 de agosto.