Histórico familiar é um dos principais fatores de risco para o câncer de próstata
Um estudo apresentado por pesquisadores norte-americanos durante o VIII Congresso Internacional de Uro-Oncologia, realizado no mês de março em São Paulo, mostrou uma forte relação entre o desenvolvimento do câncer de próstata e o histórico familiar do paciente.
Do total de 435 homens com tumor na próstata avaliados, 81,3% possuía casos de câncer na família, não apenas neste órgão, mas em outros como mama, pulmão, intestino e pâncreas. Todavia, somente o achado específico de câncer de próstata em parentes de 1º grau foi relacionado ao desenvolvimento da doença em indivíduos mais jovens.
Segundo o oncologista do Hospital Santa Lúcia, Rafael Amaral, os fatores que comprovadamente estão mais associados ao desenvolvimento do câncer de próstata não são modificáveis. “O risco aumenta quanto maior for a idade, em pacientes negros e naqueles que tem um familiar de primeira geração (pai, irmãos ou filho) com câncer de próstata”, explica.
Apesar disso, fatores modificáveis — como o tabagismo, a ingestão excessiva de álcool e uma dieta rica em gorduras — também parece influenciar a ocorrência de tumores na próstata. “Desta forma, manter uma dieta rica em licopenos (tomate), vegetais e com baixos teores de gordura exerce influência positiva, assim como não fumar e consumir álcool de forma moderada”, reforça o especialista.
A DOENÇA – O câncer de próstata é uma anomalia que ocorre nas células do órgão que produz o líquido viscoso do sêmen e causa divisões celulares descontroladas que podem invadir outros órgãos e levar à morte. É o segundo tumor mais frequente no mundo e as estimativas apontam que deve atingir 1 em cada 6 homens ao longo da vida.
Na maioria dos casos, os pacientes não apresentam sintomas. Contudo, quando eles se manifestam, incluem dificuldade em urinar, perda do controle urinário, a vontade frequente de urinar, principalmente à noite, sangramento ao urinar ou ao ejacular, dor óssea ou fraturas ósseas aparentemente inexplicáveis.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO – De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a detecção precoce de um câncer compreende duas diferentes estratégias: uma destinada ao diagnóstico em pessoas que apresentam sinais iniciais da doença (diagnóstico precoce) e outra voltada para pessoas sem nenhum sintoma e aparentemente saudáveis (rastreamento).
No caso do câncer de próstata, evidências científicas mostram que o rastreamento pode produzir mais dano que benefício. “Recentemente, estudos baseados na dosagem de PSA (antígeno prostático específico) demonstraram que é preciso achar e tratar 50 pacientes assintomáticos com câncer de próstata para que um seja salvo. Um enorme esforço e desgaste para pacientes, médicos e familiares para uma eficácia questionável”, destaca o oncologista Rafael Amaral.
A explicação para isso, segundo o médico, consiste no fato de que 16% dos homens terão câncer de próstata, mas a maioria não terá, de fato, problemas com a doença. “Como o tratamento pode ser bem agressivo — inclusive com a retirada do órgão, quimioterapia e radioterapia, entre outras medidas — e trazer muitas sequelas, o Brasil, os EUA e diversos países da Europa não recomendam realizar o rastreamento do câncer de próstata em pacientes sem sintomas”, revela o especialista. Dessa forma, o Instituto Nacional de Câncer recomenda que não se organizem programas de rastreamento e que homens que demandem espontaneamente a sua realização sejam informados por seus médicos sobre os riscos e provável ausência de benefícios associados à prática.
Todavia, caso o paciente decida por fazer o rastreamento, especialmente os que possuem fatores de risco não modificáveis, como idade, pele negra e histórico familiar da doença, a recomendação é que aqueles com PSA abaixo de 4 ng/ml repitam o exame a cada ano ou em até em 2 anos. Se a dosagem de PSA estiver entre 4ng/ml e 7ng/ml, é preciso repetir o exame para confirmação. Em homens com PSA acima de 7ng/ml, a recomendação é procurar um urologista para uma avaliação mais completa, com toque e/ou biópsia retal.