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26 de April de 2018

Hipertensão provoca 300 mil mortes no Brasil ao ano

Risco de AVC é uma das principais consequências da doença

A hipertensão arterial é responsável por 300 mil mortes no Brasil a cada ano — 820 mortes por dia, 30 por hora ou uma a cada 2 minutos. Estes dados impactantes são a consequência de um mal silencioso, já que na maior parte das vezes o paciente não apresenta sintomas até uma fase avançada da doença, e que pode provocar muitas doenças, entre elas o acidente vascular cerebral (AVC).

“A hipertensão provoca danos nas artérias por todo o corpo, e esse enfraquecimento pode levar a AVCs hemorrágicos — quando acontecem sangramentos frequentemente associados à crise hipertensiva — ou AVCs isquêmicos — obstruções nas artérias provocadas pela formação de coágulos”, afirma o neurocirurgião do setor de Hemodinâmica do Hospital Santa Lúcia, Ivan Ferreira.

De acordo com ele, os fatores de risco para pressão arterial estão divididos em dois grandes grupos: os não modificáveis, como história familiar, idade, sexo e raça; e os modificáveis, aqueles sobre os quais o indivíduo pode agir, como sedentarismo, dieta inadequada, obesidade e sobrepeso, ingestão exagerada de bebidas alcoólicas, apneia do sono, colesterol elevado, diabetes, fumo e estresse.

“Os pacientes hipertensos aparecem entre os primeiros na lista dos que mais correm esses riscos, ao lado de diabéticos, de pessoas com colesterol alto e dos tabagistas. A idade também é importante. O risco de AVC dobra a cada 10 anos a partir dos 55 anos e, apesar de incomum, até mesmo crianças podem ter acidente vascular cerebral”, destaca o especialista.

Além disso, as mulheres têm um risco maior por fatores como gravidez, pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, uso de anticoncepcional oral (principalmente quando associado ao tabagismo) e o uso de reposição hormonal após a menopausa.

Por essas razões, uma dieta balanceada e com baixa ingesta de sal, a redução no consumo de bebidas alcoólicas, a prática regular atividade física e o controle do estresse e do peso são fundamentais. Não fumar e utilizar medicações apenas da forma prescrita pelo médico também são orientações básicas reforçadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e Hipertensão que trazem muitos benefícios.

O QUE É AVC E COMO ELE OCORRE – Um AVC acontece quando uma artéria do cérebro é ocluída ou entope devido a um coágulo (AVC isquêmico, responsável por 87% dos casos) ou quando a artéria rompe (AVC hemorrágico). Quando isso acontece, parte do cérebro deixa de receber nutrição e oxigênio e começa a morrer.

A pressão arterial elevada — acima de 120×80mmHg, segundo a American Heart Association — provoca lesões, inicialmente em pequenos vasos. Em estágios mais avançados, os órgãos podem ser afetados e passar a apresentar mal funcionamento. Nesta situação, além do AVC podem ocorrer insuficiência cardíaca, renal, doença coronariana, perda da visão e disfunção sexual.

HEMODINÂMICA – Até cerca de 3 anos atrás, o único tratamento efetivo para o AVC era a trombólise venosa, com medicação aplicada na veia. Porém, uma nova técnica, chamada trombectomia mecânica, mudou radicalmente o tratamento. “Hoje, nos acidentes maiores nós conseguimos, através da hemodinâmica, que é um tipo de cateterismo, retirar os coágulos responsáveis pelo AVC isquêmico”, detalha Ivan Ferreira.

No Santa Lúcia, o Setor de Hemodinâmica possui um aparelho biplano (GE Inova Biplanne) que existe apenas em outros dois hospitais do país. “Ele auxilia de forma decisiva o diagnóstico e tratamento do AVC, pois reduz pela metade o tempo do exame e, no caso do AVC, essa é uma variável fundamental porque, a cada minuto de isquemia, 2 milhões de neurônios são perdidos”, explica o médico.

ACOMPANHAMENTO – A hipertensão pode ocorrer em qualquer idade, mas está frequentemente associada ao envelhecimento: o avançar da idade faz com que as artérias percam progressivamente sua elasticidade. Até os 64 anos os homens são os mais afetados pela hipertensão. Acima dos 65, a doença é mais comum nas mulheres.

Por isso, o ideal é consultar-se com o cardiologista uma vez ao ano a partir dos 40 anos de idade, no caso de pessoas saudáveis. Já os que possuem fatores de risco ou doenças como hipertensão ou dislipidemia podem precisar de mais consultas.

Nestes momentos, o médico pode solicitar diversos exames. Entre os mais importantes estão o ecocardiograma para avaliação da estrutura do coração, o Holter, para avaliação de arritmias; o MAPA, para avaliação da pressão arterial; e o teste ergométrico, para avaliar a capacidade funcional e estratificação de risco cardiológico.

Além desses exames, grupos como atletas ou pacientes com insuficiência cardíaca podem se beneficiar por exames mais detalhados, por exemplo a ergoespirometria, que auxilia nos treinamentos. “É importante lembrar que até mesmo crianças podem ter hipertensão, muitas vezes provocada por outras doenças (hipertensão secundária) ou por outros fatores de risco como a obesidade infantil. Se houver a presença de fatores de risco, elas precisam ser acompanhadas”, finaliza o especialista do Santa Lúcia.