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08 de March de 2015

Hábitos não saudáveis aumentam influência do fator “má sorte” para evolução do câncer

65% dos casos de câncer podem ser fruto de mutações aleatórias no processo de divisão celular

 

 

Você tentaria a sorte se soubesse que suas chances de perder na loteria chegam a 65%? E se descobrisse que os mesmos 65% de chances de desenvolver um câncer estão ligados diretamente ao fator “má sorte”, abandonaria hábitos saudáveis e entregaria seu destino ao acaso?

 

 

Um estudo americano divulgado no início deste ano pela revista Science, uma das mais importantes publicações científicas do mundo, concluiu que dois terços dos casos de câncer são influenciados por mutações aleatórias que acontecem no processo de divisão celular que substitui as células mortas constituintes dos órgãos. Foram inclusas na pesquisa 31 formas da doença, das quais 22 parecem ser provocadas por essas mutações, entre elas o câncer no cérebro, ossos, pâncreas, ovário, testículos e sangue (leucemia). Ficaram fora da pesquisa tipos muito comuns como os de mama e próstata.

 

 

À primeira vista, a novidade parece desanimadora e até fatalista, mas não é bem assim. De acordo com a oncologista do Hospital Santa Lúcia, Patrícia Schorn, todas as pessoas estão passíveis de desenvolver câncer no decorrer de sua vida, já que a doença é causada por uma série de defeitos de DNA que ocorrem durante a divisão celular e independem da vontade do indivíduo.

 

 

Estes defeitos podem ser herdados ou adquiridos, corrigidos ou mantidos pelo sistema imunológico. “Quanto mais presente for o câncer na história familiar, maior a chance de desenvolver a célula murada, ou seja, a doença. Se o paciente tem um sistema imunológico enfraquecido por outras doenças ou hábitos não saudáveis, como o consumo de tabaco e de alimentos ricos em gordura e açúcar, por exemplo, as chances de o organismo não conseguir corrigir essas falhas aumenta muito”, explica Patrícia.

 

 

Desta forma, alimentar-se de modo saudável, praticar atividade física regulamente, além de evitar o tabagismo e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas são atitudes que continuam exercendo papel fundamental na prevenção do câncer.

 

 

Mas por que, então, não temos mais casos da doença? Segundo a médica, o motivo central é que o sistema imunológico humano é extremamente competente no reconhecimento e eliminação das células malignas, agindo de modo natural e espontâneo. “O problema está no fato de que maus hábitos geram queda na funcionalidade desse sistema, permitindo o não reconhecimento da célula do câncer e sua permanência no organismo. Um sistema imunológico frágil permite com que o câncer exista e se mantenha”, alerta.

 

 

A ocorrência de câncer é mais comum em duas fases da vida humana: a infância e a terceira idade. “Quando somos crianças, nosso sistema imunológico ainda é imaturo e, na velhice, torna-se menos eficaz. Além disso, pacientes com doenças ou tratamentos que determinem imunossupressão — como transplantes, infecção pelo vírus HIV e/ou doenças reumáticas — são mais vulneráveis”, detalha a oncologista.

 

 

NÚMEROS – O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 576.580 mil casos novos de câncer ocorrerão este ano em todo país. Deste total, 52,4% deverão surgir entre homens e 47,6%, entre mulheres. O câncer de pele do tipo não melanoma será o mais incidente na população brasileira, com 182 mil novos casos, seguido pelos tumores de próstata (69 mil), mama feminina (57 mil), cólon e reto (33 mil), pulmão (27 mil), estômago (20 mil) e colo do útero (15 mil).

 

 

No sexo masculino, os principais tipos serão o de pele não melanoma (32,5%); próstata (22,8%); traqueia, brônquio e pulmão (5,4%); cólon e reto (5%); e de estômago (4,3%). Já no sexo feminino, serão mais prevalentes o de pele não melanoma (30,3%); mama (20,8%); cólon e reto (6,4%); colo do útero (5,7%); e de traqueia, brônquio e pulmão (4%).

 

 

O CÂNCER NO MUNDO – De acordo com estimativas do projeto Globocan 2012, da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc), da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2012 houve 14,1 milhões de novos casos de câncer e 8,2 milhões de mortes pela doença em todo o mundo. Naquele mesmo ano, nos países considerados em desenvolvimento, como o Brasil, os três cânceres mais frequentes em homens foram pulmão, estômago e fígado; e mama, colo do útero e pulmão nas mulheres. As previsões apontam ainda que, em 2030, a carga global será de 21,4 milhões de casos novos de câncer e 13,2 milhões de mortes, em consequência do crescimento e do envelhecimento da população, bem como da redução na mortalidade infantil e nas mortes por doenças infecciosas nos países em desenvolvimento.

 

 

Saiba como prevenir alguns dos principais tipos de câncer mais comuns no Brasil:

 

 

HOMENS

Próstata: indivíduos a partir dos 45 anos com histórico familiar ou com fatores de risco como tabagismo devem iniciar a rotina de exames preventivos. Caso não se enquadre neste perfil, o paciente pode iniciar as consultas ao proctologista a partir dos 50 anos.

Traqueia, brônquio e pulmões: a principal recomendação médica continua sendo evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o tabagismo.

Cólon e reto: evite o consumo exagerado de gordura animal e mantenha uma alimentação equilibrada, rica em fibras e vitaminas, associada à prática regular de atividades físicas.

 

 

MULHERES

Mama: apesar de a idade e o histórico familiar terem peso fundamental nesta forma da doença, não amamentar, não praticar exercícios físicos e ingerir álcool são comportamentos de risco.

Colo uterino: evitar estes fatores de risco como o tabagismo, infecção pelo vírus HPV, início das atividades sexuais em idade precoce e manutenção de múltiplos parceiros sexuais auxilia.

Tireoide: uma dieta com alimentos ricos em iodo — como os de origem marinha (peixes, mexilhão), além de sal iodado, leite, ovos e castanha-do-pará — ajuda a prevenir a doença.