Fatores genéticos, esforço repetitivo e traumas são as principais causas da hérnia de disco
A hérnia de disco é a fragmentação, deslocamento, curvatura para fora ou saliência da estrutura que separa as vértebras da coluna, o disco intervertebral. Na maioria das vezes causada por predisposição genética, a doença é mais comum nas regiões de maiores carga diária e mobilidade da coluna vertebral: os segmentos da coluna lombar (parte inferior das costas) e da coluna cervical (pescoço).
“A hérnia de disco é, normalmente, consequência de um processo ou doença que degenera os discos intervertebrais. Além do forte fator de risco genético, esta degeneração também está ligada a maus hábitos, como o tabagismo, a movimentos repetitivos com esforço da coluna e a traumas de alta energia causados por queda de uma grande altura ou uma batida de carro”, explica o ortopedista do Hospital Santa Lúcia, Pablo Godinho, especialista em cirurgia de coluna.
De acordo com ele, trabalhadores braçais que atuam em situações com impacto repetitivo, aqueles que trabalham em posições antiergonômicas (uma pessoa que fica muito tempo sentada à frente do computador em posição inadequada, por exemplo), praticantes assíduos de esportes de impacto ou carga axial na coluna são mais predispostos a desenvolver hérnias de disco.
SINTOMAS – “Cerca de 30% das hérnias de disco não apresentam sintomas e não necessitam de nenhum tratamento específico. Na imensa maioria das vezes, o tratamento é guiado pelos sintomas e não pelas imagens de exames. Quando sintomática, a doença pode ter várias apresentações, conforme a região da coluna em que se encontra”, alerta o profissional.
O sintoma típico causado por uma hérnia na coluna lombar é a dor na parte inferior das costas que se irradia para um dos membros inferiores, passando pelo glúteo, parte posterior da coxa, até a face lateral da perna e do pé.
Na região torácica, onde aparecem mais raramente, os sintomas da hérnia se confundem com os de outras doenças. “A dor no meio das costas, com irradiação para o tórax e seguindo o trajeto de uma costela, pode ser confundida com dores causadas por doenças do coração e do pulmão. Nestes casos, geralmente o paciente chega ao especialista após ter se consultado com outros médicos, como cardiologistas e pneumologistas”, detalha Pablo Godinho.
Já na região cervical, o sintoma mais típico é a dor no pescoço, principalmente quando irradiada — às vezes, em choque — para um dos membros superiores e chegar à mão. “Em todos os casos (lombar, torácica e cervical), a hérnia de disco pode ser acompanhada de perda de sensibilidade ou dormência, bem como a perda de força e de reflexos”, frisou o especialista.
DIAGNÓSTICO – Na maioria das vezes, o diagnóstico da hérnia de disco se dá pela história clínica do paciente, pela caracterização da dor e pelo exame físico no consultório. Exames de imagem, como a tomografia computadorizada e, principalmente, a ressonância magnética, confirmam o diagnóstico. Apesar de não haver uma idade ideal para a primeira avaliação, os casos costumam ser raros em pacientes com menos de 20 anos de idade.
“A consulta preventiva é recomendada a pacientes com grande predisposição familiar, praticantes de esportes de contato ou outros, como lutas e crossfit, e trabalhadores braçais que desempenhem atividades que exigem maior esforço da coluna. Pacientes com grandes hérnias já diagnosticadas, especialmente as cervicais e torácicas, devem fazer revisões médicas uma vez ao ano, mesmo que não apresentem sintomas”, ressalta Pablo Godinho.
TRATAMENTO – A maior parte dos quadros de dor ou crises causadas pelas hérnias de disco é autolimitada. Nestas situações, medicamentos anti-inflamatórios, analgésicos, relaxantes musculares, acupuntura e terapias físicas ajudam a suportar ou tratar as crises. Dores mais intensas costumam responder bem a procedimentos simples e minimamente invasivos com a injeção de medicamentos por meio de agulhas finas, chamados de bloqueios ou infiltrações.
Casos mais graves, com dor muito forte e intratável, são minoria. “A perda de força, sensibilidade ou da capacidade de caminhar permanentes ou progressivas devem ser tratadas cirurgicamente. A cirurgia padrão para hérnia discal é a retirada do fragmento de disco por meio de uma pequena incisão feita com auxílio de microscópio ou lupas. Há uma infinidade de outras técnicas e novas surgem frequentemente. Por isso, cada caso deve ser tratado de forma individualizada”, recomenda o ortopedista.
Segundo ele, a hérnia de disco com sintomas — especialmente perda de força, sensibilidade e dificuldade ao andar — pode deixar sequelas, a depender de sua gravidade e da demora no tratamento quando a indicação é cirúrgica. “Mesmo após uma cirurgia tecnicamente bem realizada, o paciente pode permanecer com algum grau de fraqueza muscular, dor ou perda de sensibilidade”, exemplifica o cirurgião de coluna.
PREVENÇÃO – “Hábitos de vida saudáveis, como a prática regular de atividades físicas com acompanhamento profissional, cuidados posturais e a manutenção de um bom condicionamento físico geral são essenciais para quem já sofreu uma crise de dor causada por hérnia de disco ou para quem tem forte predisposição genética familiar”, finaliza o médico.