Envelhecer com a mente saudável e sem perder a capacidade de aprender
Estudo aponta que o cérebro continua produzindo neurônios mesmo na terceira idade. A geriatra do Santa Lúcia, Priscilla Mussi, dá dicas de como envelhecer com a mente jovem“Não se ensina truques novos a cachorro velho” é um ditado comum no Brasil para se referir à dificuldade que a idade impõe à aquisição de saberes, como falar um novo idioma. No entanto, a ciência tem refutado essa crença e comprovado que o aprendizado pode acontecer de forma eficaz, seja na infância ou na terceira idade. Um estudo conduzido por cientistas espanhóis e divulgado na revista científica Nature Medicine revelou que o cérebro é capaz de produzir neurônios mesmo em idade avançada.
No trabalho citado, foram analisadas amostras de tecido cerebral de pessoas que já haviam morrido, todas com idade entre 43 e 87 anos. Os pesquisadores notaram a presença de neurônios recém-nascidos e uma pequena variação da neurogênese (produção de neurônios) em todos os fragmentos.
De acordo com a geriatra do Hospital Santa Lúcia, Priscilla Mussi, a produção de novos neurônios está relacionada com os estímulos recebidos ao longo da vida. “É fundamental manter a mente sempre ativa. A aprendizagem gera conexões entre as diferentes regiões do cérebro e, por isso, é importante para evitar sua deterioração”, explica.
Mussi reforça que o estímulo do cérebro não passa apenas pela leitura, que é uma importante atividade para manter a mente saudável. “Garantir uma interação social habitual e estimular constantemente o cérebro com outras atividades e ambientes exploratórios são fundamentais para gerar novas conexões neurais”.
O estilo de vida está totalmente relacionado à neurogênese. A geriatra atenta para a necessidade de investir em uma alimentação equilibrada — um bom exemplo é a dieta do Mediterrâneo — e em exercícios físicos e meditação, bem como evitar o uso excessivo de álcool e outras drogas. “Alguns estudos apontam os flavonoides como alimentos que propiciam a neurogênese adulta. Chá verde, uvas roxas e, sem dúvida, alimentos ricos em antioxidantes devem ser incluídos na dieta habitual por seus efeitos positivos para evitar a degeneração celular”, destaca Mussi.
Outro vilão da produção de células neurais é o estresse. Segundo a especialista, estudos apontam que experiências estressantes aumentam os níveis de glicocorticoides, que “através de um mecanismo que envolve a liberação e o acúmulo de glutamato no hipocampo, podem provocar redução da proliferação de células”.
A especialista é enfática: “o envelhecimento saudável não prejudica a formação de novos neurônios; o envelhecimento da mente, sim”. Esses novos estudos vão contribuir para entender o surgimento de doenças autodegenerativas como o Alzheimer. Outras, como Parkinson e AVC, podem prejudicar a produção de novas células neurais.
“O Hospital Santa Lúcia está preparado para estimular o aprendizado do paciente, mesmo quando há baixa reserva cognitiva, por meio do nosso Time Zero, que conta com profissionais de excelência em diversas especialidades: geriatra, psicólogo, dentista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e enfermeiros”, reforça Priscilla Mussi.
Entenda a neurogênese
A neurogênese é o processo de produção de novos neurônios no cérebro. Mas, o que são os neurônios? São as células que compõem o sistema nervoso, responsáveis por conduzir, receber e transmitir os impulsos nervosos através do corpo. Os neurônios podem ser considerados a unidade básica da estrutura do cérebro e do sistema nervoso. Todas as ações dos seres humanos — locomoção voluntária e involuntária, pensamentos, memórias, capacidades cognitivas, sensações, entre outras funções — somente são possíveis graças a eles.
Os neurônios nascem continuamente durante a idade adulta, sobretudo em duas regiões do cérebro: a zona subventricular (ZSV), situada nas paredes dos ventrículos laterais, onde as novas células migram para o bulbo olfactório através do fluxo migratório rostral; e a zona subgranular (ZSG), parte do giro dentado do hipocampo. Uma pessoa saudável produz, em média, de 700 a 1.400 neurônios por dia.