Cuide da sua saúde: especialista esclarece dúvidas sobre influenza
Com o médico infectologista Werciley Júniorchefe da Comissão de Controle de Infecções Vinculadas à Saúde do Santa LúciaA influenza, ou gripe, é uma infecção aguda do sistema respiratório ocasionada pelo vírus influenza, com elevado potencial de transmissão e altas taxas de hospitalização. Em geral, os sintomas iniciais da doença incluem febre, dor muscular e tosse seca. Apesar de comumente ter evolução por período limitado (de um a quatro dias), a doença pode se apresentar forma grave. Idosos, crianças, gestantes e pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, ou imunodeficiência são mais vulneráveis aos vírus.
Atualmente, existem três tipos de vírus influenza que circulam no Brasil: A, B e C. Este último causa apenas infecções respiratórias brandas. Já os vírus influenza A e B são responsáveis por epidemias sazonais, sendo o influenza A responsável pelas grandes pandemias (A/H1N1pdm09 e A/H3N2).
A vacina contra gripe ofertada no Sistema Único de Saúde protege contra os tipos de três vírus, e sua eficácia é de 50-85%. A resposta na produção de anticorpos após a vacinação depende de vários fatores, incluindo a idade, exposição prévia e subsequente aos antígenos e a presença de condições que alteram a resposta imunológica. Pessoas que têm sido vacinadas e, por acaso, adquirem uma gripe tendem a desenvolvê-la de forma menos grave e com risco reduzido de complicações.
Para esclarecer dúvidas comuns sobre o assunto, entrevistamos o infectologista do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior. Confira:
1 – Quais os sintomas de cada tipo de influenza e como diferenciá-los?
Não existem diferenças clínicas nos sintomas gripais induzidos pelos subtipos do vírus influenza, mas podemos dividir os sintomas em síndromes (conjunto de sintomas) clínicas.
Na síndrome gripal, os mais comuns são febre de início súbito acompanhada de tosse ou dor de garganta e, pelo menos, um dos sintomas: dor muscular (mialgia), dor de cabeça (cefaleia) ou dor articular (artralgia). Já na síndrome respiratória aguda grave, indivíduos de qualquer idade podem ser internados com febre, tosse e dispneia (cansaço e dificuldade para respirar), acompanhados ou não de sintomas como o aumento da frequência respiratória e pressão baixa. Em crianças, além destes sintomas, é preciso observar também itens como batimentos de asa de nariz, cianose (coloração azul-arroxeada da pele, embaixo das unhas ou nas mucosas), desidratação e ausência de apetite.
2 – Em que momento é preciso procurar um médico?
Casos leves de gripe/influenza necessitam de repouso domiciliar. Porém se houver sintomas de síndrome grave, como os que mencionei acima, é preciso procurar um serviço hospitalar.
3 – O que acontece quando o diagnóstico é precoce?
O diagnóstico precoce permite o uso rápido de tratamentos específicos. Atualmente, podemos tratar os pacientes com síndrome gripal ou com fatores de risco fazendo uso de oseltamivir (Tamiflu®). Quando indicada, a substância deve ser utilizada preferencialmente nas primeiras 48 horas, o que aumenta sua eficácia. Em pacientes hospitalizados, os estudos mostram algum benefício na redução da mortalidade quando iniciado o tratamento até 96 horas. Portanto, deve-se iniciá-lo mesmo que ainda não haja o resultado do exame para detectar o vírus.
4 – Quais os riscos de um diagnóstico tardio?
O diagnóstico tardio diminui a eficácia do tratamento do antiviral e pode fazer com que o quadro inicial se agrave e complicações importantes ocorram, como o desenvolvimento de pneumonia.
5 – Como é feita a confirmação do tipo de vírus? Em quanto tempo?
De forma geral, a amostra preferencial para o diagnóstico laboratorial é a secreção da nasofaringe, colhida, sempre que possível, nos primeiros três dias do aparecimento dos sinais e sintomas.
6 – Por que a influenza voltou a ser motivo de grande preocupação? O que ocorreu ao longo dos anos para isso?
As epidemias de gripe sazonal causam de 3 a 5 milhões de casos graves e de 300 mil a 500 mil mortes por ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. O agente etiológico da doença é o Myxovirus influenzae, ou vírus da gripe. Ele se subdivide nos tipos A, B e C, mas apenas os vírus do tipo A e B apresentam relevância clínica em humanos. Todos os anos, ocorre no Brasil uma epidemia de gripe sazonal, geralmente entre abril e outubro, sobretudo nos locais onde as condições climáticas são mais definidas, como é o caso do Distrito Federal.
7 – Quais os principais mitos sobre a doença que precisamos ser esclarecidos?
a) O vírus da influenza não é transmitido pela comida, ou seja, ninguém adquire gripe ingerindo ou preparando carne de porco ou de aves.
b) A vacina para influenza pode interferir na resposta a alguns testes laboratoriais para vírus, como HIV-1, vírus da hepatite C e HTLV-1. A recomendação é realizar testes específicos para esses vírus em pacientes que tenham tomado a vacina, caso algum dos exames apresente resultados alterados.
c) O uso contínuo de vitamina C pode ajudar o sistema imune e diminuir a chance de apresentar quadro gripais.
8 – Como prevenir a influenza?
As recomendações são receber a vacina anualmente (pessoas dentro dos grupos definidos pelo Ministério da Saúde têm prioridade); manter boas práticas de higiene, como lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool em gel a 70%; evitar manipular lenços ou objetos usados por uma pessoa doente; utilizar lenço descartável ao espirrar, tossir ou falar e jogá-lo no lixo após o uso; permanecer em casa quando doente; e usar máscara cirúrgica durante os deslocamentos até os serviços médicos quando apresentar sintomas. Se não tiver lenços de papel ao alcance, use o cotovelo ao tossir ou espirrar e, em seguida, lave as mãos.
9 – Como tratar a influenza?
Pacientes com sintomas leves podem usar antitérmicos em casa e alimentar-se de forma habitual. Caso apresente sinais de piora clínica, como febre persistente, associados a dificuldade respiratória, é preciso ir a um hospital e iniciar uso de antiviral.
10 – Como o Santa Lúcia está preparado para atender a pacientes com influenza?
No Santa Lúcia, temos disponível o teste laboratorial rápido de detecção de vírus influenza associado ao uso de detecção por painel viral, cujo resultado é liberado em até 48 horas. Pacientes com sinais de gravidade serão internados e receberão antiviral, além de suporte necessário conforme cada caso.