Como a elevação da temperatura impacta sua saúde?
Você não conhece a pessoa ao lado, mas mesmo assim é inevitável comentar: “tá um calor, né?”. Nestes períodos de temperatura mais alta, alguns cuidados com a saúde são fundamentais para manter doenças pré-existentes controladas e evitar que novas se instalem no organismo.
Para esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto, conversamos com o coordenador geral da Emergência do Hospital Santa Lúcia Sul (HSLS), Luciano Lourenço, médico especialista em medicina intensiva.
1 – Quais as principais doenças intensificadas ou provocadas devido às altas temperaturas?
As doenças respiratórias são as mais recorrentes com relação às trocas de temperatura que, quando um pouco mais alta, impacta mais diretamente o padrão respiratório. Inspirar um ar mais quente do que o desejado gera padrões inflamatórios no corpo, aumentando um pouco o volume de secreção dos brônquios e canalículos do pulmão. E isso nos deixa mais predispostos à ação dos vírus e bactérias.
Ocorrem também alterações na pressão arterial. Num primeiro momento, a vasodilatação pode gerar uma queda de pressão (hipotensão). Quando ela ocorre, existe uma taquicardia compensatória natural: a pressão baixa e o coração acelera para tentar reverter isso, o que pode causar náuseas, vômito e dores de cabeça. Em situações assim, quando o indivíduo sai do ambiente mais quente para um lugar com temperatura controlada e mais amena, seu organismo começa a se readaptar e a pressão costuma se normalizar.
Todavia, se o paciente continua exposto a essa temperatura elevada, pode começar a ter transtornos mais perigosos e até mesmo apresentar o que chamamos de hipertermia, quando a temperatura do corpo é superior a 40 graus Celsius. Neste caso, o organismo fica sobrecarregado e quadros mais graves podem ser desenvolvidos, como degradação do tecido muscular, inchaço das mãos e dos pés, problemas com o fluxo de sangue e o ritmo cardíaco, insuficiência renal e acúmulo de líquido nos pulmões, entre outros.
A pele também é bastante afetada pelo calor e precisa fazer uma adaptação muito grande, o que provoca rubor, rush cutâneo e transpiração excessiva. Isso gera inflamações e aumenta a predisposição a doenças da pele, como erisipelas. Ademais, quando você transpira mais e a troca de fluidos na respiração fica maior, é possível que ocorra uma desidratação.
2 – Como o calor interfere na saúde de pacientes que já convivem com algumas dessas doenças?
O calor é um agente agressor e afeta com mais intensidade pacientes que já tenham alguma doença, como as de pele, hipertensão ou diabetes. Ele faz com que, além das respostas normais do organismo para o controle dessas enfermidades, seja necessária a ativação de mecanismos de regulação da temperatura corpórea. Em geral, os pacientes que já têm doenças instaladas apresentam mais tendência à desidratação e precisam ter muito cuidado para evitar que o calor as agrave ou descompense.
3 – O que fazer para minimizar esse impacto?
O organismo precisa estar sempre numa temperatura satisfatória. Independentemente da temperatura externa, ele sempre trabalha para se manter entre 36 e 37 graus Celsius. Quando o ambiente esquenta, a gente se preocupa, porque não é tão simples liberar o calor interno para um meio que já está quente.
Então, o que precisa ser feito? Primeiramente, facilitar essa liberação de calor com o uso de vestimentas leves, que permitam a transpiração. Também é importante se manter em ambientes de temperatura controlada, com ou sem ar-condicionado – que pode ser um aliado, mas também vilão.
No caso do ar-condicionado, o ideal é que ele esteja regulado numa temperatura não tão diferente da externa, próxima dos 22 graus, o que é normalmente recomendado pelos especialistas. Além disso, mantê-lo limpo evita o acúmulo de micro-organismos como vírus, fungos e bactérias.
Outra coisa importante é evitar trocas bruscas de temperatura. Se você está dentro de um carro e vai descer dele num ambiente quente, tente fazer isso à sombra, não sair diretamente para o sol. E evite o choque de transitar por locais com temperaturas muito diferentes entre si, muito extremas.
4 – Que cuidados é preciso ter fora desse período mais quente para minimizar o desconforto quando o calor chega?
Neste caso, é fundamental manter-se imunologicamente bem, com sono de qualidade, alimentação balanceada, boa hidratação e nível de estresse controlado. Para que os mecanismos de defesa do corpo trabalhem com uma intensidade maior, é preciso manter os cuidados básicos em dia.
5 – Que perfis de pessoas estão mais propensas a desenvolver essas doenças? Elas podem surgir na vida da pessoa que tem propensão a elas exatamente por causa do calor?
A gente sempre se preocupa com os extremos. Crianças, idosos, mulheres grávidas e imunodeprimidos, a exemplo de pessoas com HIV, ficam mais expostos a situações assim. Ademais, pessoas que já têm essas condições instaladas têm mais propensão a sentir ou agregar outra doença quando expostas ao calor mais intenso. Entretanto, não existem doenças geradas pelo calor. O calor é interpretado pelo organismo como um agente que eleva seu funcionamento.
6 – Como tratá-las emergencialmente? O que fazer?
Se o paciente tem um acometimento respiratório pelo calor que gerou um quadro inflamatório, ele pode ter uma infecção pulmonar, por exemplo. Em situações assim, é preciso avaliar se a infecção é por vírus, bactérias, fungos ou se é apenas uma broncopatia inflamatória sem a presença de micro-organismos para, em seguida, indicar a melhor terapia.
Se ele desitratou, é preciso fazer a reposição de líquido. Em geral, a reposição oral funciona muito bem. Mas se o quadro for de uma desidratação mais severa, a gente precisa fazer terapia de reidratação por soro endovenoso.
Nas doenças de pressão é necessário fazer ajustes medicamentosos ou terapias com soro. Uma hipotensão, por exemplo, pode ser tratada com reposição volêmica.
Já as doenças de pele precisam ser avaliadas individualmente. Se você teve uma infecção mediada pelo calor ou uma transpiração que provocou alguma infecção fúngica, cada caso precisa ser tratado de forma especializada e específica.
7 – Como o Santa Lúcia está preparado para atender a esses pacientes, especialmente no verão e em períodos de maior temperatura?
O Santa Lúcia conta com uma Emergência em que diversos especialistas estão disponíveis presencialmente para o atendimento 24 horas em especialidades como Pediatria, Clínica Médica, Cardiologia, Ortopedia, Ginecologia e Cirurgia Geral. Há ainda profissionais de outras especialidades que atuam em regime de sobreaviso nas áreas de Urologia e Neurologia.
Nossa infraestrutura inclui uma Sala Vermelha equipada para atender a pacientes que precisam de cuidados mais intensivos. O paciente que chega com uma desidratação grave, por exemplo, vai diretamente a este espaço.
É importante frisar que, independentemente das doenças que foram estimuladas pelas altas temperaturas – pulmonar, de pele, metabólica ou associada à pressão arterial – o Santa Lúcia está altamente capacitado para atendê-las e resolvê-las.