Como as brincadeiras promovem o desenvolvimento infantil?
Brincar é umas das principais expressões do comportamento da criança e um dos aspectos mais importantes para o seu desenvolvimento, porque envolve aspectos físicos, emocionais e intelectuais.
Quando brinca, a criança interage com o seu ambiente material e emocional, constrói conhecimento, socializa-se, adota e gera cultura e estabelece a sua maneira própria de ser e estar no mundo.
“A criança precisa brincar, ter prazer e alegria para crescer; ela precisa do jogo como forma de equilíbrio entre ela e o mundo. É por meio do lúdico que ela se desenvolve”, afirma a pediatra do Hospital Santa Lúcia, Nathália Sarkis.
Saiba mais sobre o assunto na entrevista que ela nos concedeu.
1 – De que forma as brincadeiras livres e estruturadas contribuem para o desenvolvimento geral das crianças?
As brincadeiras e os jogos têm papéis fundamentais no desenvolvimento psicomotor e no processo de aprendizado e de domínio social da criança, pois exercitam os processos mentais e o desenvolvimento da linguagem e hábitos sociais. Brincando e jogando, a criança experimenta, inventa, descobre, aprende e confere habilidades. O jogo desempenha uma função impulsionadora do processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança. Todavia, há uma distinção entre os objetivos e função da brincadeira livre (espontânea) e o jogo estruturado.
Na brincadeira espontânea, o objetivo e o brinquedo são escolhidos naturalmente pela criança; há uma razão própria que a faz exercer de maneira significativa sua inteligência e sua necessidade de investigação. Agindo sobre o objeto escolhido para a brincadeira, a criança, desde pequena, estrutura seu espaço, seu tempo e desenvolve a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica.
No jogo estruturado, a criança se engaja em um determinado ambiente onde as matérias, instruções e ajudas implícitas e explícitas são feitas para ajudarem-na a alcançar seu objetivo, ou seja, ela é induzida à forma “certa” de brincar e de chegar ao destino desejado da brincadeira.
2 – Como a brincadeira influencia o aprendizado formal?
As brincadeiras e os jogos criam um ambiente especial para a aprendizagem porque geram interesse e prazer, favorecem a concentração, a atenção, a afetividade, o engajamento, a imaginação e as habilidades psicomotoras. Quando o jogo tem uma intenção, quando ele é significativo para a aprendizagem, faz com que a criança aprenda a pensar, estimula sua inteligência.
3 – De que forma ela ajuda o desenvolvimento das relações com familiares e outras pessoas?
As brincadeiras e os jogos são práticas sociais que ajudam a criança a desenvolver habilidades socioemocionais que serão utilizadas durante toda a vida. Brincadeiras e jogos propiciam autoconhecimento, entendimento de sua individualidade dentro do grupo em que está inserida, resiliência e respeito mútuo.
Ademais, criam oportunidades para compartilhar, criar novas formas de linguagem, viver papéis sociais diferentes, trabalhar a autonomia e tomar decisões, aprender sobre a importância de pedir e dar ajuda, seguir regras, aprender a ganhar e a perder e a expressar seus sentimentos.
4 – Há diferença no estímulo ao desenvolvimento entre as brincadeiras solitárias e as coletivas?
Sim. As brincadeiras solitárias permitem que a criança explore o mundo e descubra coisas como forma, textura (áspero, liso, escorregadio), consistência (duro, macio), cor e gosto. Assim, tudo é explorado, sentido, cheirado, experimentado. É um processo individualizado, solitário, não exige a presença de outras crianças.
Já as brincadeiras coletivas requerem a participação de duas ou mais pessoas e suas regras podem ser criadas ou modificadas pelos participantes, por isso exigem que a criança participe da dinâmica do grupo, da organização e das estratégias. As brincadeiras coletivas encorajam a autonomia intelectual, a habilidade social, o pensamento crítico saudável e o comportamento cooperativo das crianças.
5 – Como lidar com a presença cada vez maior dos jogos eletrônicos como a principal brincadeira das crianças? Quais os seus benefícios? Há prejuízos?
Os jogos eletrônicos podem ser bons aliados no desenvolvimento cognitivo e motor das crianças, no processamento de ideias, na tomada de decisões. Todavia, precisam ser utilizados com limites, regras e horários pré-estabelecidos em um combinado consensual, visto que crianças que ficam muito tempo envolvidas em jogos eletrônicos podem apresentar sedentarismo, lesões, escapismo social e comprometimento no desempenho escolar, debilitando sua saúde física e psicológica ao longo do seu desenvolvimento.
6 – Qual deve ser o papel dos pais e responsáveis no sentido de estimular, orientar e participar das brincadeiras das crianças?
Os pais devem estar presentes e estimular as brincadeiras das crianças, orientar brincadeiras ao ar livre, com comandos e ações, estimular os jogos de tabuleiros e, sempre que possível, evitar telas e aparelhos eletrônicos.