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03 de August de 2017

A arte de viver melhor e mais feliz

“Para se ter vida longa é preciso viver devagar”

 

O político e escritor romano Marco Túlio Cícero já sabia, ainda na Roma Antiga, que para viver bem não é necessário valer-se de receitas complexas. Séculos depois, é maior ainda o desafio de colocar em prática essas sábias palavras, abandonar a rotina frenética e exaustiva e reorganizar o tempo e as prioridades.

 

A medicina já comprovou que um estilo de vida que inclua alimentação saudável, atividades físicas e sociais, menos tarefas estressantes e o abandono de vícios como tabagismo e alcoolismo leva à redução de doenças e, consequentemente, a uma vida mais longa e feliz.

 

O estilo de vida moderna tem feito a população brasileira adoecer mais, e os números mostram isso. O diabetes, doença crônica caracterizada pelo aumento da glicose no sangue, atinge aproximadamente 9 milhões de brasileiros, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde 2015 (PNS), realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE. Dados do mesmo Ministério apontam também que o infarto agudo do miocárdio atinge 300 mil brasileiros por ano, causando cerca de 80 mil mortes.

 

Além disso, dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) indicam que 24,8% da população brasileira adulta têm pressão alta. Os números alarmantes são um aviso: os brasileiros precisam começar a mudar seus hábitos, inclusive os culturalmente arraigados.

 

Saúde do coração

 

Para o cardiologista do Grupo Santa, Fausto Stauffer, as mudanças no estilo de vida deveriam ser a principal intervenção a ser feita em todos os pacientes que querem prevenir ou até mesmo tratar doenças, entre elas as cardiovasculares. “Uma vida mais simples geralmente significa menos estresse, melhor alimentação e mais interações com os círculos sociais, como família e amigos. Tudo isso é extremamente benéfico”, ressalta.

 

Não há fórmula mágica para viver melhor. As recomendações de todos os médicos são as mesmas: parar de fumar, beber menos, evitar alimentos industrializados, dormir mais e melhor, interagir mais com a família e amigos, realizar atividades físicas prazerosas, de preferência em contato com a natureza.

 

Na avaliação de Stauffer, a rotina moderna não é uma boa aliada do coração. Há estudos que correlacionam, por exemplo, a privação de sono ao aumento de eventos cardiovasculares.

 

“Estamos dormindo cada vez menos e pior. Ficamos até tarde ligados em smartphones e em telas em geral, o que pode perturbar o início do sono. Uma atitude bem simples é tentar se desconectar e dormir mais cedo. Isso pode ser feito progressivamente e já adiciona uma atitude positiva para a qualidade de vida”, recomenda o cardiologista.

 

Comer melhor

 

Há mais de 2000 anos, Hipócrates, considerado por muitos o pai da medicina, dizia “que teu alimento seja teu remédio”. Ele estava certo. A boa alimentação é um dos pilares para uma vida saudável. A receita é priorizar a comida de verdade, ou seja, carnes, ovos, vegetais, frutas, gorduras saudáveis e naturais. Evitar produtos industrializados, que contenham açúcar, farinhas, corantes, conservantes e flavorizantes também é essencial.

 

“Ao evitar carnes processadas e alimentos ricos em gorduras, preferindo fibras, verduras e frutas, a pessoa pode reduzir o risco de câncer de intestino e pâncreas. Da mesma forma, evitar alimentos conservados no sal, como de carne sol e peixes salgados, pode reduzir o risco de câncer de estômago, por exemplo”, explica o oncologista do Grupo Santa, Eduardo Vissotto.

 

Dados do Ministério da Saúde revelaram que 50% dos brasileiros têm excesso de peso, e isso é fruto de uma alimentação ruim e da falta de atividades físicas. Outra pesquisa do Ministério, em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2011, confirma que o brasileiro come mal. Entre os itens mais consumidos, estão a cerveja (63,6% dos entrevistados), os salgadinhos industrializados (56,5%) e salgados fritos e assados (53,2%).

 

Mexa-se

 

A falta de tempo para fazer atividades físicas não pode ser uma desculpa para não fazer nada. Vários estudos já provaram o impacto dos exercícios para uma vida mais saudável, mais feliz e longe de doenças como diabetes, colesterol alto, hipertensão e depressão. O rol de benefícios é extenso.

 

De acordo com um estudo da Universidade de Rosário, na Colômbia, a falta de atividade física pode reduzir em até 10 anos a expectativa de vida. Assim, ainda que não seja possível praticar exercícios físicos todos os dias, inclua o que for possível na sua rotina.

 

Que tal usar sempre as escadas em vez dos elevadores? Estacionar o carro mais longe do local de destino e evitar utilizá-lo para ir à padaria da esquina? Depois de começar, é mais fácil conseguir, aos poucos, construir o hábito e aumentar a frequência e a intensidade das atividades.

 

Mente sã, corpo são

 

A antiga máxima é verdadeira. A atitude positiva influencia diretamente em como o nosso corpo reage. Na visão do oncologista Eduardo Vissotto, pensamentos positivos influenciam beneficamente o funcionamento do sistema imunológico.

 

“Ter uma postura positiva diante do mundo permite que os pacientes com diagnóstico de câncer aceitem melhor a doença e aprendam a lidar com ela e seus tratamentos com mais harmonia e leveza”, destaca. Para o cardiologista Fausto Stauffer, os seres humanos são feitos para viver em grupo, em sociedade, em família. Por isso, o isolamento social e a solidão impactam negativamente a saúde.

 

“Engajar-se em temas que são importantes para cada indivíduo faz parte da saúde de uma forma mais holística”, pontua.

 

Dicas para viver mais e melhor

 

– Coma melhor e mais devagar. Prefira alimentos naturais e orgânicos e faça da sua alimentação um ritual de cuidado com o seu corpo.

 

– Insira atividades físicas em ações cotidianas. Troque o elevador pelas escadas, prefira a bicicleta ao carro e caminhe sempre que possível.

 

– Evite o tabagismo e diminua a ingestão de álcool. Após 15 anos sem fumar, estudos mostram 
redução de até 90% do risco de câncer de pulmão.

 

– Evite ou minimize situações de estresse no trabalho e em casa. Entre 2010 e 2012, o número de mortes por infarto aumentou 5,58% no Brasil e subiu de 79.668 para 84.121 casos, segundo o Ministério da Saúde. O estresse é uma das principais causas para esta doença crônica.

 

– Encontre mais tempo para atividades culturais e de lazer que descansem o cérebro.

 

– Cuide mais da sua mente, com atitudes e pensamentos positivos. Um estudo da Universidade Carnegie Mellon revelou que o otimismo parece reduzir os níveis de hormônios do estresse, como o cortisol.

 

Compre menos coisas e viva mais experiências, como viajar, sair pra jantar, assistir a um bom show ao lado de quem você ama.

 

Tenha amigos! Um estudo da Universidade de Virgínia concluiu que ter pessoas em que confiar e a quem recorrer faz com que os problemas pareçam menores e a vida fique melhor.

 

Prefira uma vida mais simples e faça as coisas de um modo mais tranquilo. Encontre tempo para reorganizar as suas tarefas e exija menos de si.