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31 de May de 2015

Tabagismo é fator de risco importante para cerca de 50 doenças

Você faz caminhadas de duas a três vezes por semana, ingere bebidas alcoólicas apenas socialmente e prefere alimentos naturais. Seu peso está dentro dos valores considerados saudáveis e, na sua família, não há casos conhecidos de pessoas que tiveram câncer ou alguma doença cardiovascular. Mas, desde o final da adolescência, você não conseguiu se livrar de um vício: o cigarro.

 

 

Unicamente por causa do tabagismo, suas chances de sofrer um infarto agudo do miocárdio, por exemplo, são até cinco vezes maiores que as de um não fumante com hábitos e histórico familiar iguais ao seu. Já o risco de desenvolver câncer de pulmão é ainda maior e, na comparação com quem nunca fumou, chega a ser de 10 a 30 vezes superior, dependendo da carga tabágica.

 

 

O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica gerada pela dependência da nicotina e, por isso, está inserido na Classificação Internacional de Doenças (CID10) da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele é um importante fator de risco isolado para cerca de 50 doenças, muitas delas graves e fatais, como o câncer e as doenças cardiovasculares.

 

 

DOENÇAS CARDIOVASCULARES – “O infarto agudo do miocárdio (IAM), o acidente vascular cerebral (AVC) e a doença arterial dos membros inferiores (DAOP) são algumas das doenças cardiovasculares mais associadas ao tabagismo”, afirma o cardiologista do Hospital Santa Lúcia, Fausto Stauffer. De acordo com ele, o risco trazido pelo cigarro é similar para os sexos masculino e feminino, mas as mulheres que fazem uso de pílulas anticoncepcionais e fumam têm mais probabilidade de apresentar IAM, AVC e a doença arterial obstrutiva periférica, que altera a estrutura e a função arterial, reduzindo o fluxo sanguíneo.

 

 

A preocupação com o ganho de peso — que, em excesso, também está associado a doenças cardiovasculares — pode interferir na decisão de parar de fumar. Contudo, segundo o médico, o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares é maior no tabagista do que no obeso. “Não existe justificativa para o paciente continuar fumando. Além disso, quando utilizamos o tratamento farmacológico para cessar o tabagismo, o ganho de peso é menor”, explica.

 

 

CÂNCER – Todas as pessoas estão passíveis de desenvolver câncer no decorrer de sua vida, já que a doença é causada por uma série de defeitos no DNA que ocorrem ao acaso durante a divisão celular. As substâncias que compõem o cigarro atuam diretamente no DNA das células, causando novas mutações que facilitam a carcinogênese, ou seja, a transformação de células saudáveis em células cancerosas.

 

 

“O tabagismo é fator de risco comprovado principalmente nas neoplasias malignas de pulmão, cabeça e pescoço, esôfago e bexiga, além de outros tumores com impacto menor, esclarece o oncologista Eduardo Vissotto.

 

 

“Em fumantes pesados, o risco cumulativo de desenvolver câncer de pulmão ao longo da vida pode chegar a 30%, comparado a 1% de não tabagistas. No câncer de bexiga, o risco é de 2 a 5 vezes maior e nos tumores de cabeça e pescoço, de 5 a 25 vezes (ainda maior quando associado ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas)”, acrescenta.

 

 

PARAR DE FUMAR OU NEM COMEÇAR – Entre os anos de 1989 e 2010, a queda do percentual de fumantes no Brasil foi de 46%, segundo dados da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CONICQ), integrante do Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco, vinculado ao Instituto Nacional de Câncer (INCA).

 

 

O dado é animador, mas os benefícios da interrupção do tabagismo são ainda maiores. “Em curto prazo, observamos redução de pressão arterial e frequência cardíaca, assim como melhora da circulação periférica. Um ano sem fumar diminui pela metade o risco de doença cardíaca e, após 10 a 15 anos, o risco de AVC é semelhante ao do paciente que nunca fumou”, alerta o cardiologista Fausto Stauffer.

 

 

Os dados citados pelo médico são fornecidos pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e Associação Americana do Coração (AHA), ambas instituições norte-americanas. “É importante ressaltar ainda que os pacientes não tabagistas vivem, em média, 14 anos mais que os tabagistas, segundo ambas as instituições”, frisa o médico.

 

 

Os maiores benefícios para quem deixa de fumar acontecem em longo prazo e são proporcionais ao tempo de abstinência. “No câncer de pulmão, essa redução é mais evidente após cinco anos de cessado o hábito. Após 15 anos sem fumar, estudos mostram redução de até 90% do risco, porém ainda maior do que aqueles que nunca cultivaram o hábito”, alerta o oncologista Eduardo Vissotto. Ainda que não consiga parar de fumar, o indivíduo que reduz a quantidade de cigarros consumidos por dia já acumula alguns benefícios. Depois de dois anos e meio, a redução para menos da metade do número de cigarros diários reduz o risco de câncer de pulmão em torno de 30%.

 

 

No caso do câncer de bexiga, a redução do risco atinge o máximo de 60% após 25 anos sem fumar e, nos tumores de cabeça e pescoço, depois de 20 anos o aumento de risco é praticamente nulo.

 

 

“Em pacientes que já apresentam diagnóstico de câncer, parar de fumar melhora a tolerância à quimioterapia e reduz o risco de desenvolver outros tumores primários relacionados ao cigarro”, finaliza Vissotto.