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22 de June de 2014

Esteatose hepática pode evoluir para cirrose

A esteatose hepática, ou doença gordurosa do fígado, é o acúmulo de gordura nas células hepáticas que pode ter várias causas: abuso de álcool, hepatites virais, diabetes, obesidade, colesterol ou triglicérides elevados e uso prolongado de certos medicamentos. “O maior perigo é a ausência de sintomas. A esteatose pode evoluir por anos sem que o paciente perceba”, explica o gastroenterologista do Hospital Santa Lúcia, Cícero Dantas. Exames como ecografia, ressonância magnética e tomografia computadorizada revelam a presença ou não de gordura no fígado. Ela também pode ser detectada quando há elevação das enzimas hepáticas em exames de sangue, daí a importância do check-up periódico. A esteatose não alcoólica atinge de 15% a 25% da população em geral e cerca de 60% das pessoas obesas. “O diagnóstico precoce e o tratamento da causa da esteatose são importantes porque, embora ela seja reversível na maioria dos casos, pode causar inflamação das células hepáticas e evoluir para cirrose, que não tem cura e pode ser fatal”, alerta Cícero Dantas.

 

 

O fígado humano possui normalmente pequenas quantidades de gordura. Porém, quando ela ultrapassa 10% do peso dessa glândula, caracteriza-se um quadro de esteatose. A fase inicial da doença, chamada de esteatose hepática leve, normalmente não causa complicações. Mas quanto maior e mais prolongado o acúmulo de gordura, maiores são os riscos de uma lesão no fígado. “Essa gordura hepática em excesso por muito tempo pode provocar inflamação das células do fígado, o que chamamos de esteato-hepatite ou hepatite gordurosa”, destaca o gastroenterologista. “É essa inflamação crônica que, se não tratada, pode evoluir para cirrose”, reforça.

 

 

A esteatose hepática, portanto, é um estágio anterior ao desenvolvimento da esteato-hepatite. Quanto maior o sobrepeso do paciente, maior o risco de desenvolver a enfermidade. Outros fatores que favorecem o acúmulo anormal de gordura no fígado e a inflamação das células são o diabetes tipo 2, a resistência à insulina e o colesterol elevado. “A esteatose é um alerta de que pode haver outros problemas relacionados. Quando o exame de imagem mostra o acúmulo de gordura, é preciso fazer avaliações complementares para descobrir a causa”, afirma Cícero Dantas. Mais comum em mulheres, a doença pode também aparecer, em proporções menores, em pessoas magras e que não fazem uso abusivo de álcool.

 

 

É importante saber que a esteatose hepática e a esteato-hepatite são reversíveis, desde que ainda não tenham provocado fibrose no fígado. “O tratamento é direcionado à causa da doença, já que ela não tem sintomas mesmo em sua fase avançada. Se a causa for diabetes, por exemplo, o paciente deve manter a glicemia sob controle; se for obesidade, é necessária uma mudança de hábitos de vida, com perda de peso, reeducação alimentar, prática de exercícios físicos, e assim por diante”, exemplifica o gastroenterologista.

 

 

Até a década de 1980, acreditava-se que todos os casos de esteato-hepatite eram relacionados ao abuso de álcool. Naquela época, médicos norte-americanos foram os primeiros a descrever como “esteato-hepatite não alcoólica” casos da doença em mulheres obesas e diabéticas que negavam o uso de álcool mas apresentavam alterações no fígado como aumento do volume hepático, alterações em exames laboratoriais e biópsias com macrovesículas de gordura nas células hepáticas, necrose (morte celular) focal, inflamação e lesões chamadas de corpúsculos de Mallory, achados até então considerados característicos da hepatite alcoólica.

 

 

Em 1989, foi descoberto o vírus da hepatite C, apontado à época como responsável pela maioria dos casos não alcoólicos da esteatose e da esteato-hepatite. No final da década de 1990, entretanto, já havia testes disponíveis e confiáveis que deixaram claro que boa parte desses casos não tinha nenhuma relação com álcool nem com esse tipo de hepatite, mas ainda assim o número de pessoas com a doença estava aumentando de modo alarmante, coincidindo com a epidemia de obesidade, especialmente nos Estados Unidos. Na última década, a doença do fígado gorduroso tem sido alvo de grande interesse e investigação científica.

 

 

Crianças também podem apresentar esteatose hepática. Nos primeiros anos de vida, ela é geralmente causada por alguma síndrome metabólica. Já nas crianças mais velhas e em adolescentes, as causas são semelhantes às dos adultos. O tratamento na infância é de fundamental importância para prevenir danos irreversíveis na vida adulta, além da conscientização da criança para manter hábitos de vida saudáveis.