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02 de October de 2020

Médicos temem aumento de mortes por câncer e doenças cardiovasculares pós-pandemia

Tratamentos, exames e consultas podem ser realizados sem risco aumentado de infecção pela Covid-19, defendem especialistas

O diagnóstico tardio de doenças cardiovasculares e o adiamento de tratamentos de câncer em função da pandemia da Covid-19, deve gerar uma onda de mortes no país. O alerta vem de especialistas em saúde, ao observarem o distanciamento dos pacientes dos hospitais, seja para a realização de exames preventivos seja pelo adiamento de tratamentos de câncer, temendo a infecção pelo novo coronavírus.

“Existe a possibilidade de aumento de óbitos por doenças cardiovasculares e câncer no período imediatamente após a pandemia. Essas doenças sofrem influência direta dos cuidados primários e intervenções invasivas. É sabido que muitas pessoas deixaram de fazer consultas de rotina. Com isso, o controle de outras doenças como hipertensão arterial e diabetes, que são fatores de risco para o infarto agudo do miocárdio, ficou prejudicado”, explica o cardiologista hemodinamicista do Hospital Santa Lúcia, Dr. Luciano de Moura Santos.

Com o intuito de entender os impactos da Covid-19 no país, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) realizou uma pesquisa entre seus associados que atuam nos sistemas público, privado ou em ambos.  O levantamento, que foi respondido por 120 médicos, apontou que 74% dos profissionais informaram que tiveram um ou mais pacientes que interromperam ou adiaram o tratamento de câncer por mais de um mês durante a pandemia.

“As consequências do atraso do tratamento é o diagnóstico tardio com maior risco de morte, uma vez que o diagnóstico precoce permite tratamentos muitas vezes menos intensos e com maior chance de cura”, afirma a médica oncologista do Hospital Santa Lúcia, Dra. Patrícia Schorn.

O levantamento mostrou, ainda, que quase 70% dos médicos acreditam que as cirurgias oncológicas foram as mais afetadas. Mas não só isso: para 22,5% deles, os exames de seguimento também enfrentam obstáculos. Não à toa, menos de 1% dos entrevistados afirma que nenhum procedimento sofreu consequências. “O grande problema está no atraso do diagnóstico. Diagnósticos tardios se relacionam a doenças mais avançadas. Essa situação é determinante para a necessidade de tratamentos mais agressivos e com resultados nem sempre curativos”, diz a médica.

A principal preocupação dos médicos é com o atraso na realização dos exames de imagem, que são fundamentais para o diagnóstico de câncer. “A ausência de consultas reflete na diminuição de exames de imagem que são utilizados tanto para o diagnóstico de doenças cardiovasculares como para o diagnóstico de câncer em estágio inicial, situação em que o tratamento poderia ser instituído de forma mais precoce, resultando em maiores taxas de cura e sobrevida”, alerta Luciano de Moura Santos.

Apesar do impacto da pandemia no diagnóstico e tratamento de câncer e das doenças cardiovasculares, os especialistas explicam que, à exemplo do Santa Lúcia, a maioria dos hospitais pelo país implantaram uma série de medidas, exatamente para garantir a segurança dos pacientes durante a pandemia da Covid-19.

“O que não pode ser feito, de maneira alguma, é adiar o tratamento, ou simplesmente deixar de realizar exames e consultas de rotina. Observe se o hospital tem divisão de alas para o atendimento dos pacientes Covid e não-Covid. Use máscaras faciais e álcool em gel para higienizar as mãos. Além disso, do ponto de vista do tratamento oncológico, há também a indicação de utilização de medicações que aumentem a imunidade dos pacientes que estão em quimioterapia. São medidas que certamente garantem segurança”, orienta Dra. Patrícia Schorn.

Protocolo especial – Para dar segurança a todos os pacientes, o Hospital Santa Lúcia implantou um protocolo especial durante a pandemia. Além da separação de alas, foram adotadas as seguintes medidas:

  • Distanciamento de 2 metros entre cada cadeira;
  • Uso obrigatório de máscaras para pacientes e profissionais de saúde;
  • Álcool em gel disponível em todos os ambientes;
  • Higienização constante de todo o ambiente da Oncologia com peróxido de oxigênio (produto mais forte que álcool à 70%);
  • Higienização total dos boxes de atendimento entre um paciente e outro;
  • Aumento do intervalo entre uma consulta e outra dos pacientes.