Sistema imunológico fraco e doenças influenciam casos graves de Covid-19 em idosos
Desde as primeiras descobertas sobre a ação da Covid-19 no organismo humano, os cientistas identificaram que a doença tem mais chances de se manifestar de forma grave em pacientes idosos. Mas por que isso acontece?
Segundo a médica geriatra do Hospital Santa Lúcia, Priscilla Mussi, por duas razões centrais: 1) o sistema imunológico (as defesas naturais do organismo) é naturalmente enfraquecido com o envelhecimento do corpo; e 2) ao chegar à terceira idade, os pacientes já apresentam outras comorbidades, como hipertensão e diabetes, por exemplo.
Um artigo publicado pelo periódico científico Nature (www.nature.com/articles/s41591-020-0822-7) mostra a gravidade da questão. De acordo com os pesquisadores, pessoas idosas têm até cinco vezes mais chances de morrer quando contraem Covid-19 do que jovens e adultos. “Estamos comprovando isso em países do mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil”, relata Mussi.
Para entender um pouco mais sobre o assunto, inclusive os cuidados com a saúde mental dos idosos neste período de distanciamento social, conversamos com a especialista. Leia a entrevista e compartilhe conhecimento.
1 – Apesar de as chances de contágio serem as mesmas para todas as faixas etárias, o risco de agravamento da doença aumenta à medida em que a idade do paciente avança. Por quê? Isso ocorre mesmo que outros fatores, como hipertensão e diabetes, estejam controlados?
Os idosos são o maior grupo de risco para o desenvolvimento de casos graves de Covid-19 por apresentarem maiscomorbidades: hipertensão, diabetes, obesidade, doenças pulmonares e cardíacas. Além disso, o envelhecimento provoca a imunossenescência, ou seja, a diminuição natural da capacidade protetora do sistema imunológico. Como resultado, esse processo aumenta, de modo geral, a incidência de doenças infectocontagiosas em idosos e o risco de que elas impactem sua saúde de forma mais grave.
2 – Que papel a saúde mental tem nesse risco de desenvolvimento de formas mais graves da Covid-19? Qual o peso de fatores como solidão, estresse, ansiedade, tristeza e depressão?
A inter-relação entre o sistema imunológico e as emoções é extremamente complexa e, apesar de muitos anos de estudos, persistem mais dúvidas do que certezas em relação a como as alterações emocionais interferem com o sistema imunológico, e até mesmo se alterações do sistema imunológico poderiam ajudar em alterações comportamentais mais importantes.
Todavia, acredita-se que o estresse crônico, a ansiedade e a depressão aumentam a presença de citocinas inflamatórias no organismo, o que gera um aumento da atividade inflamatória no corpo e, portanto, exacerba as reações do sistema imune, podendo favorecer o desenvolvimento de doenças autoimunes (que afetam o sistema imunológico contra uma estrutura do próprio organismo), como lúpus, doença celíaca e esclerose múltipla.
3 – O confinamento/ isolamento/ distanciamento pode ser mais prejudicial aos idosos do que a pessoas de outras faixas etárias? Por quê?
De fato, o isolamento é mais difícil para os idosos porque, em geral, eles não conseguem lidar tão bem com a Internet e acreditam mais facilmente no que lêem, podendo chegar a um estado de pânico rapidamente. Idosos geralmente têm pior acuidade visual e auditiva e, por isso, as telas não fazem companhia.
Por outro lado, eles também têm mais artrose e dores musculares, o que atrapalha na hora de fazer exercícios físicos em espaços pequenos e sem supervisão, o que acarreta maior risco de lesões.
4 – Como fazer, então, para minimizar os problemas trazidos por esse momento de pandemia? Algo que gostaria de acrescentar?
Para diminuir o medo e a ansiedade, é importante:
– Ter uma rotina: organizar o tempo, não ficar só de pijama, fazer cursos ou ler aquele livro que sempre quis. Além disso, manter as refeições e acordar e dormir nos mesmos horários.
– Movimentar-se: é importante incluir nessa rotina exercícios físicos, como caminhar 20 vezes pelo corredor, sentar e levantar do sofá 5 vezes em três momentos distintos do dia.
– Momento de silêncio: incluir no dia momentos de meditação, oração ou apenas silêncio, em que seja possível perceber o próprio corpo e emoções.
– Relaxar: atividades que distraiam, como ler, escutar música, assistir a um filme e até navegar na Internet, podem ser boas, desde que haja cuidado com o conteúdo acessado.
– Ser mais otimista: todo mundo está com dificuldades, problemas e angústias. Não adianta procurar culpados ou achar que outros estão vivendo melhor. O mais importante é buscar se adaptar e entender que isto é uma fase que vai passar.