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09 de June de 2020

Doença falciforme aumenta risco de formas graves de Covid-19

Os portadores de doença falciforme – alteração nos glóbulos vermelhos (hemácias) que dificulta a oxigenação do sangue – estão incluídos no grupo de risco para desenvolver doenças mais graves em decorrência da Covid-19.

Segundo a médica hematologista do Hospital Santa Lúcia, Daniele Reckziegel, isso ocorre porque essa população é imunossuprimida pelo não funcionamento do baço, o que aumenta o risco de infecções.

“Além disso, a infecção respiratória por coronavírus pode causar redução da oxigenação sanguínea, desidratação e, assim, desencadear crise dolorosa. Há ainda o receio de que a infecção respiratória possa também levar à síndrome torácica aguda, que é uma complicação grave nestes pacientes”, destaca a especialista. Outros fatores, como a hipertensão pulmonar e/ou doença renal, ambas comumente presentes em pessoas com doença falciforme, podem elevar o risco de forma grave da Covid-19.

Por essas razões, conforme as recomendações do Ministério da Saúde e da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), os pacientes com doença falciforme devem manter um isolamento social estrito, com saídas apenas para coletas de exames e atendimentos médicos que não possam ser postergados.

“Entregas de alimentos e medicamentos devem ser deixados na porta da casa desses pacientes, para minimizar o contato. Também é preciso lavar as mãos várias vezes ao dia e os demais moradores da residência devem redobrar os cuidados, trocando de roupa ao chegar em casa. Em caso de sintomas de Covid-19 (falta de ar, perda do olfato e paladar, sintomas gripais e febre), é necessário procurar imediatamente um serviço de saúde e informar sobre sua condição de risco”, reforça a médica Daniele.

DOENÇA FALCIFORME – A doença falciforme é causada por uma mutação no gene que produz a hemoglobina A, levando à produção de uma hemoglobina mutante – a hemoglobina S. Outras hemoglobinas mutantes, como a C, D, E, em combinação com a hemoglobina S, também originam as doenças falciformes. A mais conhecida é a combinação SS, denominada anemia falciforme.

Nessa doença, o paciente apresenta um quadro de anemia crônica, frequentes episódios de dor intensa decorrentes da oclusão dos vasos sanguíneos pela hemácia em forma de foice – que reduz a oxigenação dos tecidos –, além de uma maior predisposição a infecções, síndrome torácica aguda, AVC e feridas nas pernas, entre outras complicações.

“Tudo isso faz com que o paciente tenha necessidade frequente de atendimento em serviços de emergência, o que os tornam mais vulneráveis a contrair a Covid-19. Por isso, ao buscar um hospital neste momento, é fundamental que o paciente procure unidades como as do Santa Lúcia, em que o fluxo estabelecido impede que ele entre em contato com qualquer pessoa com suspeita de Covid-19”, ressalta Daniele Reckziegel.

A doença falciforme pode levar a uma redução importante da qualidade de vida, com internações frequentes, dores de difícil controle, alteração da função dos rins, pulmão e olhos, infecções de repetição, problemas neurológicos, sobrecarga de ferro nos órgãos e uma sobrevida reduzida em comparação à população sem a doença. O acompanhamento médico desde a infância é fundamental para minimizar e prevenir estas complicações.

RISCO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO – A doença falciforme é genética, hereditária e mais prevalente na população negra. Ela pode ser facilmente diagnosticada ao nascer, com o teste do pezinho, ou por meio de um exame laboratorial chamado eletroforese de hemoglobinas, no qual se detecta uma porcentagem anormal da hemoglobina S.

Seu tratamento consiste em um programa de imunizações, antibióticos nas infecções, hidroxiureia, transfusões de sangue regulares, terapia de quelação de ferro, suplementação com ácido fólico, além de cuidados gerais com curativos, boa hidratação e nutrição.

A cura da doença pode ser obtida por meio do transplante alogênico de medula óssea. Todavia, esta terapia apresenta riscos elevados mesmo em pacientes selecionados, e deve ser realizada preferencialmente na infância, com um parente doador compatível.