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04 de April de 2019

Vinho, resveratrol e saúde

Dois médicos – um intensivista e uma nutróloga – expõem os possíveis efeitos benéficos da bebida para você tomar sua decisão

 

“Uma taça de vinho por dia faz bem à saúde”. De tanto ser repetida, a frase já virou uma máxima popular, acreditada por consumidores e não consumidores da bebida. Mas quais são e como aproveitar da melhor maneira os tão propagados benefícios do vinho para o organismo? Conversamos com dois especialistas para entender melhor o assunto: o médico intensivista do Hospital Santa Lúcia Sul, Carlos Oliveira, e Melissa Chaves, médica nutróloga.

Embora outros artigos científicos já tratassem do assunto antes, o ponto de partida para a popularização do consumo moderado de vinho como sendo benéfico para a saúde – especialmente a cardiovascular – foi o ano de 1991, quando apresentou-se nos Estados Unidos o “Paradoxo Francês”. A expressão marca a associação da ingestão da bebida a um menor número de eventos cardiovasculares entre os franceses, grandes produtores e consumidores de vinho, em comparação a outras populações.

Desde então, muitos estudos, sobretudo observacionais, surgiram em todo o mundo reafirmando os benefícios do consumo moderado da bebida. O médico Carlos Oliveira é um dos entusiastas desta corrente. Ele ressalta que os estudos comprovam a redução de risco de eventos como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico por meio de efeitos anticoagulante, anti-inflamatório e protetor miocárdico, além de uma melhora no perfil lipídico (de gorduras) no organismo atribuídas ao vinho.

Os efeitos são conferidos, principalmente, por uma substância presente na casca e semente da uva madura – e também em alimentos como o mirtilo, o amendoim e o chocolate amargo: o resveratrol. Seus efeitos no organismo podem promover melhora na coagulação sanguínea; proteger as células dos radicais livres, auxiliando a função cerebral e aumentando a longevidade; aumentar a vasodilatação – com isso, diminuindo a pressão arterial média –, além de melhorar o perfil lipídico com elevação do HDL, o chamado colesterol bom. “O próprio álcool presente no vinho promove o que chamamos de precondicionamento do coração, ou seja, o aumento da sua resistência a eventos importantes de estresse maiores”, salienta o especialista.

Já para a nutróloga Melissa Chaves, não há como confirmar com absoluta certeza os resultados indicados pelos estudos existentes porque eles são apenas observacionais, ou seja, feitos com o acompanhamento dos hábitos de vida de pessoas ao longo dos anos. “É possível que hajam fatores que confundam o resultado, como hábitos alimentares, a prática de exercícios físicos, entre outros. Os dados que temos indicam que o consumo moderado de vinho parece ser benéfico, mas isso está longe de ser uma certeza”, enfatiza.

 

Ainda de acordo com ela, não há outra fonte alimentar com quantidades significativas de resveratrol. “Mesmo o vinho tinto não tem quantidades muito elevadas da substância. Por isso, seu efeito benéfico parece vir da sinergia entre todos os seus ingredientes e não do resveratrol isoladamente”, pondera. “O vinho, principalmente o tinto, é rico em substâncias antioxidantes, como os polifenóis (o resveratrol é o mais conhecido), as antocianinas, os taninos, os flavanóis, as catequinas e as procianidinas. Todas elas podem ter um potencial benefício ao organismo”, acrescenta.

 

A IMPORTÂNCIA DO CONSUMO MODERADO – Nisso, os dois profissionais de saúde concordam plenamente: apesar dos possíveis benefícios envolvidos no consumo de vinho, a ingestão de álcool não deve ser estimulada. A diretriz americana de orientação dietética (Dietary Guidelines for Americans) nem chega a contemplar em suas recomendações produtos que contenham álcool em sua composição.

“Eu não recomendo o consumo do vinho para fins de saúde entre aqueles que ainda não fazem uso da bebida. Entre quem já consome vinho ou está começando a consumi-lo, é sempre importante reforçar que a ingestão excessiva pode acarretar doenças graves, como cirrose hepática, pancreatite alcoólica ou insuficiência cardíaca, além de despertar outros problemas graves, como o alcoolismo”, afirma Carlos Oliveira.

Mas qual a dose segura? Estima-se que 300ml de vinho ao dia para homens e 200ml ao dia para mulheres. Melissa Chaves reforça: “O primeiro cuidado é não começar a beber apenas pelo potencial benefício do vinho tinto. É possível, pela alimentação, ingerir antioxidantes em quantidade suficiente sem precisar beber. Então não é necessário começar a beber vinho por nenhum motivo”. Para quem já bebe, ela recomenda: “Neste caso, o vinho tinto é uma opção melhor. Procure beber na companhia de familiares ou amigos e não beba mais do que uma ou duas taças por dia. Além disso, de tempos em tempos fique cerca de um mês sem beber para verificar se consegue. E, caso amigos ou familiares mencionem seu consumo de bebida como algo negativo, faça uma autoanálise sincera e tente parar”, ressalta.